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Educacao Popular Pos-Moderna ?

Alexandre AGUIAR

01 / 1994

Mais do que um conceito, Pos-Modernismo e uma sensacao de que a modernidade esta falida; de que a racionalizacao da vida, tipica da modernidade, e inaceitavel e desumana; de que a promessa de progresso, inscrita nos ideais do Iluminismo, e uma ilusao; de que o universal e perigoso. E tambem uma aposta: contra a racionalidade, as verdades universais, o progresso e a continuidade do processo historico; os pos modernos apostam na heterogeneidade e na diferenca; afirmam a fraguimentacao de experiencias como tipica da situacao existencial e cultural do homem contemporaneo; enfatizam a existencia de micropoderes capilares no interior da sociedade e consideram ilusorios o poderio do Estado e a dominacao de classe.

Para os defensores da pos-modernidade, a dominacao de classe se manifestaria num novo cotidiano em que a maquina teria sido substituida pela informacao, a fabrica pelo shopping center como locus de formacao de mentalidade. A sociedade nao mais seria formada por cidadaos, que se remeteriam ao espaco publico, mas por "tribos" para as quais o espaco publico nao teria mais sentido e seria substituido pela intimidade exibicionista da multiplicidade de particularismos, da miriade de fragmentos. Os que veem nisso um fenomeno positivo entendem que este e o sintoma de uma sociedade rebelde, avessa a todas a totalizacoes.

A perda progressiva da dimensao interior dos individuos, substituida pela relacao com o video e outras fontes de informacao publicitaria, e vista como positiva: "O homem pos-moderno e esquizoide, e permeavel a tudo, tudo e demasiado proximo, e promiscuo com tudo o que toca, deixa-se penetrar por todos os poros e orificios, e nisso se parece como o anti-Edipo de Deleuse e Guattari, que liberta os fluxos de energia obstruidos pelo capitalismo transformando-se, assim na pura maquina desejante, no revolucionario esquizofrenico que se opoe a "paranoia fascista". Ao homem centrado na razao, senhor de suas paixoes, contrapoe-se o homem fragmentado, multiplo, descentralizado.

Mas, o que tem tudo isso a ver com Educacao Popular?

Em primeiro lugar, sempre houve no campo da Educacao Popular um forte questionamento a razao instrumental. Esse questionamento pode desembocar na perspectiva de um conceito mais rico e amplo de razao, ou na negacao da razao. A diferenca entre estas duas vias, que e essencial, em geral, esteve obscurecida nos debates internos da Educacao Popular.

O pos-modernismo aposta na desconstrucao - na negacao radical dos grandes ideais, valores e utopias da modernidade, confundida com a racionalidade instrumental. Ha ai ja um primeiro ponto de contato.

Em segundo lugar, ha a questao da crise de paradigmas. E grande a tendencia de se apegar a uma vertente que nega os grandes projetos sociais quando nao se tem nenhuma clareza sobre o que se poderia ser um projeto social viavel ou desejavel.

Em terceiro lugar, Educacao Popular sempre teve uma relacao forte, ainda que tensa, com o marxismo. A tentativa hoje de cortar esta relacao leva a reenfatizar temas que formavam, em grande parte, o conteudo desta tensao com o marxismo: o respeito a particularidade, o significado unico e proprio do univero simbolico de cada grupo popular, etc..., ou seja o multiculturalismo.

O multiculturalismo "desancorado", ou seja nao-ligado a nenhuma hierarquia de valores mais geral, casa-se extremamente bem com o pos-modernismo e seu culto ao fragmentario, tanto no plano individual quanto no social.

Palavras-chave

educação popular


, Brasil

Comentários

Em que sentido caminha ou caminharia uma Educacao Popular pos-moderna?

Em primeiro lugar seria radicalmente redefinindo seu objetivo central de "criar sujeitos sociais" passando a centrar-se na discussao e superacao das relacoes de dominacao e de poder que se manifestam no cotidiano dos grupos populares: relacao homem mulher, pais-filhos, etc.

A Educacao Popular sempre se preocupou com estas relacoes mas como aspectos do projeto mais amplo de "criar sujetos sociais". Na Educacao Popular pos-moderna, nao haveria projeto mais amplo, ja que ela encara qualquer ruptura com estruturas universalizantes como positiva.

E preciso, no entanto, nao abandonar a ideia de utopia e o projeto de construir coletivamente um mundo de acordo com nossos sonhos - e isto, queira-se ou nao, exige projetos "universalizantes".

Notas

Cristiano Amaral Garboggini Di Giogi e diretor do Departamento de Educacao da Universidade Estadual Paulista.

Fonte

Artigos e dossiês

DI GIORGI, Cristiano Amaral Garboggini, CEDI=CENTRO ECUMENICO DE DOCUMENTAÇAO E INFORMAÇAO, CEDI=CENTRO ECUMENICO DE DOCUMENTAÇAO E INFORMAÇAO in. TEMPO E PRESENÇA, 1193/11 (BRASIL), N. 272

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