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República da Ignorância

Professores da rede publica de ensino são mal preparados e mal remunerados

Alexandre AGUIAR

10 / 1993

A imagem do professor do ensino basico e uma unanimidade nacional: estudou pouco, ganha pouco, nao tem chances de melhorar sua formacao, nem as aulas que da. Trabalha muitas horas por semana e le pouco.

Mas quando essa imagem se transforma em numeros, o quadro que emerge e ainda mais cruel: o professor « medio » das grandes cidades da cerca de 40 horas de aulas por semana, despende entre seis e dez horas para preparar aulas e corrigir provas e ainda deve frequentar reunioes escolares (cerca de 11% dos entrevistados nao as frequentam). No total, sao aproximadamente dez horas diarias de trabalho.

Mas o quadro que esta pesquisa mostra nao e estatico. O desastre da situacao dos professores vem se somar ao desastre da alfabetizacao no pais. Do ponto de vista funcional - onde, para ser alfabetizado e preciso ter pelo menos metade do primeiro grau e ser capaz de um pouco mais que escrever um bilhete - quase metade da populacao do pais e funcionalmente analfabeta.

Pais analfabetos, filhos analfabetos. O unico local onde essa crianca tera contato com as letras sera a escola. O que a espera e o professor revelado pela pesquisa, que se formou, na maioria e quando muito, nas faculdades de menor prestigio e menos disputadas. Dos professores de primeiro grau, 20% nao tem sequer esse pobre curso superior.

Essa pesquisa foi realizada na parte mais « Primeiro Mundo » do pais: em tres grandes cidades: Sao Paulo, Recife e Porto Alegre. Proximo de onde corre o grosso do dinheiro que move a economia, o professor ainda recebe alguma coisa. Distante dos centros, o quadro e outro, muito pior. No Nordeste, a media salarial em 1986 dos professores em inicio de carreira era de 2,3 salarios minimos para quem tivesse curso superior. Se nao, o salario inicial era de 1,4 salario minimo.

A situacao do professor mostra as contradicoes do modelo educacional - se existe algum em funcionamento - adotado no pais.

A maioria absoluta dos professores entrevistados cursou primeiro e segundo graus em escola publica. Ai vem a decepcao: de novo, a maioria absoluta cursou o superior em escolas particulares. O aluno que fez o basico de graca deve, no superior, pagar muito para ter uma formacao inferior a dada pelas instituicoes publicas.

Formados pelas piores escolas, eles entram num mercado de trabalho pobre e saturado. Os melhores vao ensinar em escolas particulares (so 8% dos entrevistados da aulas em instituicoes privadas)e formar os futuros alunos de universidades publicas que, so muito raramente, vao optar pelo magisterio basico. O padrao se perpetua.

Palavras-chave

ensino primário, ensino secundário


, Brasil, São Paulo, Recife, Porto Alegre

Comentários

Os alunos do curso de primeiro grau, no Brasil, tem aulas com professores cuja formacao vem piorando pelo menos desde 1977. Neste ano, metade dos professores de primeiro grau tinha formacao superior. Em 1988, a taxa era de 39,4%. No que diz respeito a formacao, os professores brasileiros passam pelo mesmo funil perverso que dirige os alunos das escolas publicas para as faculdades particulares, em geral inferiores as universidades mantidas pelo Estado.

A pouca qualificacao destes profissionais se soma a salarios cada vez piores: o salario medio dos professores da rede estadual de ensino de Sao Paulo compra hoje quatro vezes menos do que em 1968. Com isso, as greves tornaram-se constantes a partir de 1984. Um ano letivo inteiro, 180 dias de aula, foi perdido em greves de professores paulistas entre 1986 e 1989.

Notas

Esta ficha traz dados fornecidos pelo Jornal Folha de Sao Paulo publicados na serie de reportagens sobre a educacao no Brasil intitulada « Republica da Ignorancia.

Fonte

Artigos e dossiês

AGUIAR, Alexandre, SAPÉ=SERVIÇOS DE APOIO À PESQUISA EM EDUCAÇÃO in. FOLHA DE SAO PAULO, 1991/09/29 (BRASIL)

SAPÉ (Serviços de Apoio à Pesquisa em Educaçào) - Rua Evaristo da Veiga, 16 SL 1601, CEP 20031-040 Rio de Janeiro/RJ, BRESIL - Tel 19 55 21 220 45 80 - Fax 55 21 220 16 16 - Brasil - sape (@) alternex.com.br

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