A populacao universitaria brasileira e pequena, cerca de 10% da populacao entre 20 e 24 anos. A Inglaterra tem o dobro desse indice e considera pouco: pretende chegar a 30% em dez anos. Nem pensar no indice norte-americano: 65% da populacao na mesma faixa frequentam cursos superiores. No Brasil, qualquer reflexao sobre como melhorar esse indice passa necessariamente, pela questao dos exames vestibulares.
Entre o segundo grau e os cursos superiores encontra-se um no: o exame vestibular. Dado o quadro do segundo grau publico no pais, a prova se converte em selecao economica. Mas, mesmo se nao houvesse essa complicacao, persite a questao de como fazer a selecao dos estudantes. De saida, nao e possivel aboli-la como chegou a fazer a Argentina.
No vestibular, convergem todos os erros do sistema educacional: escola basica ruim, formacao de um contingente de reprovados que enchem as classes das faculdades particulares, a maioria de nivel inferior ao das escolas publicas. E sao estes ultimos que vao ensinar na escola basica. O ciclo recomeca.
Optar por alguma alternativa nova nao tera reflexos apenas sobre o nivel dos ingressantes, podera resolver outro problema do sistema universitario brasileiro: a questao das vagas ociosas. Elas sao um problema frequente quando, em vez do sistema classificatorio, adotam-se criterios eliminatorios (exigencia de notas minimas).
O drama se concentra nas licenciaturas, que irao formar os futuros professores do ciclo secundario. Elas selecionam seu publico entre poucos candidatos, a maioria com graves falhas de formacao e "capital educacional precario".
Em Pernambuco - onde desde 1984 sao necessarios notas minimas para ingressar na universidade - o vestibular de 1991 deixou 46,2% de vagas ociosas na Universidade Federal Rural, contra 10,32% na Universidade Federal. "Isso reflete a queda no ensino de primeiro e segundo graus e maior demanda por cursos que oferecem melhores oportunidades de trabalho".
O investimento na universidade publica e seu compromisso obrigatorio com a sociedade sao justificativas frequentes contra as vagas ociosas. Em 1980, elas somavam 9.556 nos estabelecimentos publicos de ensino superior, passando a 23.627 em 1989. Por outro lado, preencher vagas a qualquer custo significa um "pacto de mediocridade": a incompetencia dos profissionais ficaria mais ou menos camuflada conforme a carreira, mas seu resultado seria sempre um dano inorme para a sociedade.
educação, ensino superior, universidade
, Brasil
O exame vestibular que apavora milhoes de jovens brasileiros todos os anos, simplesmente nao existe em muitos paises da Europa. Em lugar dele, adota-se um exame unificado de conclusao do segundo grau que habilita o estudante a entrar em qualquer faculdade (o que as vezes pode gerar superlotacao nas classes, como na Franca).
No Brasil, o vestibular comeca a ser repensado. O sistema, que entre seus frutos transformou o segundo grau em centro de treinamento para o vestibular, mostra evidentes sinais de exaustao. A escola secundaria nao da formacao geral nem profissionalizante. Hoje, concluir o segundo grau nada significa. Ele e apenas um rito de passagem para a universidade.
Esta ficha traz dados fornecidos pelo Jornal Folha de Sao Paulo, publicados na serie de reportagens sobre Educacao no Brasil, intitulada "Republica da Ignorancia".
Artigos e dossiês
AGUIAR, Alexandre, SAPÉ=SERVIÇOS DE APOIO À PESQUISA EM EDUCAÇÃO in. FOLHA DE SAO PAULO, 1991/09/16 (BRASIL)
SAPÉ (Serviços de Apoio à Pesquisa em Educaçào) - Rua Evaristo da Veiga, 16 SL 1601, CEP 20031-040 Rio de Janeiro/RJ, BRESIL - Tel 19 55 21 220 45 80 - Fax 55 21 220 16 16 - Brasil - sape (@) alternex.com.br