español   français   english   português

dph is part of the Coredem
www.coredem.info

dialogues, proposals, stories for global citizenship

Republica da Ignorancia

Vestibular sintetiza contradicoes do ensino

Alexandre AGUIAR

10 / 1993

A populacao universitaria brasileira e pequena, cerca de 10% da populacao entre 20 e 24 anos. A Inglaterra tem o dobro desse indice e considera pouco: pretende chegar a 30% em dez anos. Nem pensar no indice norte-americano: 65% da populacao na mesma faixa frequentam cursos superiores. No Brasil, qualquer reflexao sobre como melhorar esse indice passa necessariamente, pela questao dos exames vestibulares.

Entre o segundo grau e os cursos superiores encontra-se um no: o exame vestibular. Dado o quadro do segundo grau publico no pais, a prova se converte em selecao economica. Mas, mesmo se nao houvesse essa complicacao, persite a questao de como fazer a selecao dos estudantes. De saida, nao e possivel aboli-la como chegou a fazer a Argentina.

No vestibular, convergem todos os erros do sistema educacional: escola basica ruim, formacao de um contingente de reprovados que enchem as classes das faculdades particulares, a maioria de nivel inferior ao das escolas publicas. E sao estes ultimos que vao ensinar na escola basica. O ciclo recomeca.

Optar por alguma alternativa nova nao tera reflexos apenas sobre o nivel dos ingressantes, podera resolver outro problema do sistema universitario brasileiro: a questao das vagas ociosas. Elas sao um problema frequente quando, em vez do sistema classificatorio, adotam-se criterios eliminatorios (exigencia de notas minimas).

O drama se concentra nas licenciaturas, que irao formar os futuros professores do ciclo secundario. Elas selecionam seu publico entre poucos candidatos, a maioria com graves falhas de formacao e "capital educacional precario".

Em Pernambuco - onde desde 1984 sao necessarios notas minimas para ingressar na universidade - o vestibular de 1991 deixou 46,2% de vagas ociosas na Universidade Federal Rural, contra 10,32% na Universidade Federal. "Isso reflete a queda no ensino de primeiro e segundo graus e maior demanda por cursos que oferecem melhores oportunidades de trabalho".

O investimento na universidade publica e seu compromisso obrigatorio com a sociedade sao justificativas frequentes contra as vagas ociosas. Em 1980, elas somavam 9.556 nos estabelecimentos publicos de ensino superior, passando a 23.627 em 1989. Por outro lado, preencher vagas a qualquer custo significa um "pacto de mediocridade": a incompetencia dos profissionais ficaria mais ou menos camuflada conforme a carreira, mas seu resultado seria sempre um dano inorme para a sociedade.

Key words

education, higher education, university


, Brazil

Comments

O exame vestibular que apavora milhoes de jovens brasileiros todos os anos, simplesmente nao existe em muitos paises da Europa. Em lugar dele, adota-se um exame unificado de conclusao do segundo grau que habilita o estudante a entrar em qualquer faculdade (o que as vezes pode gerar superlotacao nas classes, como na Franca).

No Brasil, o vestibular comeca a ser repensado. O sistema, que entre seus frutos transformou o segundo grau em centro de treinamento para o vestibular, mostra evidentes sinais de exaustao. A escola secundaria nao da formacao geral nem profissionalizante. Hoje, concluir o segundo grau nada significa. Ele e apenas um rito de passagem para a universidade.

Notes

Esta ficha traz dados fornecidos pelo Jornal Folha de Sao Paulo, publicados na serie de reportagens sobre Educacao no Brasil, intitulada "Republica da Ignorancia".

Source

Articles and files

AGUIAR, Alexandre, SAPÉ=SERVIÇOS DE APOIO À PESQUISA EM EDUCAÇÃO in. FOLHA DE SAO PAULO, 1991/09/16 (BRASIL)

SAPÉ (Serviços de Apoio à Pesquisa em Educaçào) - Rua Evaristo da Veiga, 16 SL 1601, CEP 20031-040 Rio de Janeiro/RJ, BRESIL - Tel 19 55 21 220 45 80 - Fax 55 21 220 16 16 - Brazil - sape (@) alternex.com.br

legal mentions