06 / 1996
Trabalhar no C.A.I.C. - Centro de Atenção Integral à Criança -, conviver com sua super-estrutura contrastante com a favela e as muitas histórias da Escola e da comunidade tem sido para mim um desafio cotidiano.
Em maio passao, me emocionei ao entrar na creche para comemorarmos juntos com os alunos o aniversário de Francisco, um dos muitos exemplos de vida e luta que encontramos na favela, e, ao ver sua quase ressureição, imaginei quantos Joãos, Marias, Antônios e Franciscos ainda permanecem jogados numa sociedade que finge não saber de sua existência.
O caminho é tortuoso, sinuoso, cheio de curvas e perigos, mas, numa das curvas do caminho descobrimos Francisco, não o de Assis, da Itália, mas o de Brejo da madre de Deus., Pernambuco. Abandonado, criado a deriva de sua própria sorte, inquieto, curioso, esperançoso como o nosso Francisco de Assis.
É um aventureiro!O quadro é sinistro, e é exato.
Acompanhar a história desse aluno é descobrir mais uma vítima da violência desse mundo. Criado no lixo da favela, rejeitado pela mãe, nosso Francisco, sem carinho, sem escola, sem amor, alimentando-se junto aos porcos é renunciado quase à própria condição humana.
Descoberto pelo C.A.I.C., Francisco foi, aos poucos, voltando à vida, como o outro Francisco. Foi se encontrando com os pássaros, as plantas, "o irmão sol e a irmã lua". Estamos trabalhando e acompanhando o seu processo de desenvolvimento físico e mental. Ficamos mais surpreendidos e surpresos com a nova história da sua vida.
õs histórias desses dois Franciscos se mistura à pobreza de suas vidas, sendo que o Francisco de Assis optou pela pobreza como bandeira de luta para um mundo igualitário e o nosso Francisco teve sua pobreza imposta pelo sistema, pelo poder, por esse estado que cria um mundo dividido entre ricos e pobres. Nosso Francisco, hoje, já é outra pessoa, tem melhorado seus reflexos, já sabe andar, alimentar-se sozinho e sair desenhando e pintando um mundo novo, ainda escuro, mas com pontos luminosos que apontam para um infinito de esperanças.
educação popular, aprendizagem, favela
, Brasil, Pernambuco
Wyára é educadora em Caruaru - Pernambuco - e é integrante do Coletivo de Educadores de Jovens e Adultos daquele estado.
Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.
Texto original
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