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Escrever...que medo !!!

A gente não aprende a produzir textos na escola

Joelma de Souza VIEIRA

01 / 1996

Quando comecei a recordar os momentos vividos ao fazer minha monografia, lembrei-me de meu quase xará, Jô Soares, que falou que escrever é parir sem ser mãe. De fato, passei por um período de indecisões, enjôos, surpresas, contradições, ansiedades, inchaços e outras coisas mais, até chegar ao parto da monografia intitulada "A linguagem que se escreve na alfabetização - reflexos do saber do professor".

Desde a preparação até o "parto" ficou provado que escrever é mesmo como parir, ratificando em parte, o que diz o Jô. Mas, discordo quendo ele nega a maternidade, pois considero-me mãe de todos os textos que crio e até vejo certas facilidades, pois eles não choram, não pedem mesada, não mentem, não fazem desfeita, não batem nos colegas, não quebram vidraças. Infelizmente, também não abraçam, não fazem carinho, não dizem "Eu te amo", que pena!

O primeiro passo no desenvolvimento da monografia foi a escolha do seu tema. Não foi difícil decidir sobre o que discorrer, pois há muito tempo tinha uma inquietação sobre o processo de alfabetização de minhas turmas e de outras que acompanhava de perto: qual a razão das crianças escreverem tão mal?

Por que, quando as pessoas precisam utilizar a escrita para resolver seus problemas apresentam tantas dificuldades? Por que a escrita constitui-se num objeto tão misterioso e inatingível?

Estas indagações causaram-me uma confusão enorme. Logo eu, que havia levantado tantos questionamentos, por ironia do destino ou da escola (quem diria?)sentia um enorme obstáculo para escrever. Que absurdo! De que me adiantaram tantos anos de estudante e outros de professora, tendo a caneta e o papel como compaheiros, se na hora de resolver um problema, não conseguia.

No meu caso, reverter essa situação tornou-se um desafio vital, pois era quase uma questão de "sobrevivência" mesmo: ou escrevia a tal monografia, ou ficava reprovada no curso de licenciatura. Aí, não!

Durante essa gestação, percebi que a causa da dificuldade de escrever na escola e mais tarde no cotidiano, se deve ao fato de que aprendemos a reconhecer, ler e copiar palavras e até juntar algumas delas e compor algumas orações, poucas, é claro, para não errar.

Mas, produzir textos, isso não aprendemos na escola. Pode-se até dizer que a escola forneceu o suporte básico para a escrita: leitura, pontuação, ortografia mas, a criação, a aventura e o prazer da escrita ficaram esmagados por práticas mecânicas e sem valor.

Por que não me avisaram que a escrita é igual sorvete, que precisa ser experimentado e misturado, na busca de um sabor mais gostoso e original? Depois de muitas misturas, hoje, penso que encontrei o caminho. Mas este caminho é longo e ainda há muito o que percorrer.

Finalmente "pari" a monografia e conclui o meu curso. Neste trabalho refleti sobre a aprendizagem da linguagem escrita no processo de alfabetização e, analisando as dificuldades do escrever, percebi que alguns permanecem no impasse, outros conseguem superá-lo, mas ainda são muitos os que se encontram excluídos da construção coletiva do saber.

Logo, procurei ressaltar a importância da educação voltada para as situações do dia-a-dia, a fim de propiciar uma interação do indivíduo na sociedade, numa amplitude maior, através da formação de um leitor/produtor, que lê, entende e cria os mais diversos textos para participar melhor do mundo que o cerca.

Se consegui superar meus problemas, não sei. Posso dizer que fui "mãe" e que estou aprendendo, atrevendo-me,enfim, construindo.

Palavras-chave

educação popular, alfabetização, escola, pedagogia


, Brasil, Rio de Janeiro

Notas

Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.

Fonte

Relato de experiencias ; Texto original

SAPÉ (Serviços de Apoio à Pesquisa em Educaçào) - Rua Evaristo da Veiga, 16 SL 1601, CEP 20031-040 Rio de Janeiro/RJ, BRESIL - Tel 19 55 21 220 45 80 - Fax 55 21 220 16 16 - Brasil - sape (@) alternex.com.br

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