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Massificaçao e identidade

O desafio da Comunicacao Popular segundo a educadora Regina Festa

Cristiana TRAMONTE

01 / 1993

A comunicadora, educadora popular e professora universitaria Regina Festa e uma personalidade reconhecida entre aqueles que se preocupam com a questao da Comunicacao Popular no Brasil. Primeiro, pelo longo tempo de militancia, desde os primordios da abertura politica no pais, nos anos 75/76, ja propondo a discussao sobre a questao da Comunicacao e alertando para sua importancia quando a maioria da esquerda progressista ainda tinha forte conteudo economicista. E tambem desta epoca seu livro "Comunicacao Popular e Alternativa no Brasil", uma das compilacoes mais serias do trabalho de resistencia a ditadura que os diferentes grupos fizeram nas decadas de 60/70.

Durante o IV Encontro Latinoamericano de Video, nos dias 21 a 28/11/92 em Cuzco (Peru)Regina lancou algumas questoes que valem a pena serem refletidas. Uma delas e, por exemplo, o conceito de nacao. Se na America Latina, o Novo Cinema Latinoamericano nasce sob o conceito do nacional e busca a unicidade, os anos 80 trazem em seu bojo grandes transformacoes tecnologicas que, especificamente no campo da Comunicacao, alteram substancialmente as relacoes. Uma das grandes transformacoes e a relacao com a imagem, por exemplo, a qual sofre um verdadeiro processo de "distensao" com a possibilidade da globalizacao via satelite. Esta distensao traz em seu bojo o risco cultural "da perda de nos mesmos" como Regina definiu. Defender-se desta "perda de nos mesmos" neste caso, nao significa fechar-se em suas fronteiras, recorrendo a ritos tradicionalistas e folcloricos (em seu sentido mais conservador)que paralisem o movimento da cultura. Nao perder-se de si mesmo significa compreender que esta havendo - com as novas tecnologias na Comunicacao - uma reterritorializacao que redefine os grupos e sua identidade cultural. Por exemplo - como Regina mesma citou - hoje, quando os indigenas do Peru recriam a imagem de si proprios, ja nao e somente a sua que tem em mente, mas as dos indigenas da Bolivia, do Chile, etc. que eles ja tiveram oportunidade de conhecer via meios de Comunicacao.

Esta reterritorializacao traz a tona a questao: Qual a imagem que produzimos de nos mesmos? Qual a imagem que nos interessa produzir de nos mesmos? Nesta producao da imagem, e preciso considerar o ponto de vista regional e nacional. Quantas divisoes podemos ter, quanta diversidade, sem dissolver-nos?

A nova configuracao mundial exige repensar papeis e opcoes quando se fala do trabalho de Comunicacao. A politica de formacao de grandes blocos economicos sob a logica de mercado (entre eles o Mercosul, por exemplo, que abarca da cidade de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais ate Corrientes na Argentina)coloca em cheque a questao da atuacao "micro"(local, regional)e "macro"(nacional e internacional). Esta politica deixa fora o local, o micro, o regional, desintegrando-o cultural, social e politicamente e reintegra todos "por cima", pelas estruturas, impondo logicas que se sobrepoem as anteriores.

Segundo ainda Regina, nao pode haver globalizacao sem massificacao. Por isso e importante continuar reforcando as praticas locais da Comunicacao Popular, o acesso nacional aos canais, os movimentos regionais de videos, buscando definir politicas da Comunicacao, para poder "tolerar de maneira democratica, franca e incluinte" o que as camadas populares e a sociedade civil vem propondo. Trabalhar esta pluralidade nao significa que toda diversidade pode ser organizada conjuntamente, em torno dos mesmos interesses, mas que, ao buscarmos a promocao dos povos dentro de um conceito de modernidade deve-se incluir o direito a cultura e ao conhecimento. Para isso, e legitimo buscarmos formas de garantir o controle sobre as politicas da Comunicacao como por exemplo, no Brasil, a Lei da Democratizacao da Comunicacao que esta em discussao no Congresso Nacional.

As questoes que Regina trouxe a tona neste debate sao relevantes porque buscam compreender o significado atual da globalizacao, do movimento do mercado economico em sua relacao política, social e cultural com o destino dos povos.

Palavras-chave

identidade cultural


, Peru, América Latina, Cuzco

Comentários

Pensar a Comunicacao Popular como um elemento de democratizacao da informacao e do direito a cultura e ao conhecimento deve ser preocupacao de todos que acreditam que a nocao de Modernidade so devera ser construida com base na igualdade de oportunidades, que nasce no acesso igualitario a informacao. Alem do mais - e o fundamental do debate que Regina suscita - e discutir o papel do chamado "Video Popular" atualmente. Neste contexto, qual a identidade, funcao e relevancia da dita "producao alternativa"? Para que, afinal, constituir-se num movimento? Com qual identidade? Buscando exatamente cumprir qual funcao? Num primeiro momento, o video popular cumpriu o papel da denuncia, da construcao da identidade, da informacao. Com a abertura democratica, com a globalizacao, com as novas tecnologias, qual imagem queremos construir? Como enfrentar a diversidade sem dissolver-nos enquanto comunicadores preocupados com a democratizacao da sociedade? Atualmente, qual nossa funcao social?

Notas

Esta palestra foi ministrada durante o IV Encontro Latino americano de Video, nos dias 21 a 28/11/92 em Cuzco, Peru.

Entrevista com FESTA, Regina

Fonte

Actas de colóquio, seminário, encontro,…

TRAMONTE, Cristiana, IV ENCONTRO LATINO AMERICANO DE VIDEO, FESTA, Regina, 1992/11 (BRASIL)

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