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Almanaque do Alua

Por que um almanaque?

(L’Almanach de L’Alua Pourquoi un Almanach?)

Alexandre AGUIAR

09 / 1993

Quando, em 1991, o SAPE iniciou a fase de sistematizacao dos dados da pesquisa "Confronto de Sistemas de Conhecimento na Educacao Popular", comecamos a nos perguntar como seriam difundios os resultados desta investigacao. A preocupacao primeira era a de que muitas pessoas de formacao e experiencias diferentes pudessem ter acesso e se confrontassem, tambem, com o conhecimento que estavamos produzindo na pesquisa.

Dai, como fazer para enfrentar a dificuldade existente em muitos dos grupos onde pretendiamos chegar - em relacao ao texto escrito?

Comecamos, entao a imaginar possibilidades de abertura de novos espacos onde o texto escrito pudesse manter uma relacao criativa com a fala, que e o nosso recurso privilegiado de expressao. Por que nao, por exemplo, passar do texto para uma leitura em voz alta, teatralizada, ou, vice-versa, do depoimento, da conversa - cheia de gestos, de jogo de olhares - ao texto? Sera que nao chegariamos, atraves de caminhos como esses, a estimular e reforcar o exercicio de leituras plurais, valorizando a autoria?

Na base dessas nossas discussoes estavam as ideias norteadoras da pesquisa. Uma delas - talvez a mais importante - e o reconhecimento de que as relacoes entre ideias, expressoes e atitudes nao estao previstas de antemao. Na verdade elas sao construidas num processo continuo de negociacao de conhecimentos. Essa maneira de ver a producao do conhecimento exclui o desejo pre-determinado de convencer, aconselhar ou converter quem quer que seja. Assim, eliminamos no ponto de partida a preocupacao de um material de difusao dos resultados da pesquisa do tipo compendio ou manual de orientacao.

Outra ideia chave - tambem presente na orientacao da pesquisa - e a nocao da circularidade de saberes. Essa nocao expressa uma conviccao - confirmada no decorrer do trabalho de investigacao - de que os saberes existentes na sociedade circulam entre as pessoas e classes sociais, apesar dos seus diversos niveis culturais.

Foi assim que, examinando as varias possibilidades de organizacao de textos, resolvemos investir no resgate dos almanaques. Descobrimos, no "espirito" editorial desse material escrito, um potencial de resposta as perguntas e expectativas que tinhamos.

Assim, uma vez decidido o caminho da nossa aventura, comecamos a trabalhar para concretizar nosso projeto de publicacao e definir o perfil do primeiro numero experimental do Almanaque do Alua, cujos elementos principais sao os seguintes: o tempo interno deste primeiro numero experimental e de 7 de setembro (data em que se comemora a "Independencia do Brasil")ao Carnaval. Estas duas datas representam faces importantes da vida brasileira. De um lado, a ordem, o autoritarismo, a hierarquia. De outro lado, a inversao, a fantasia. Os espantalhos alegres, a mistura de todos.

Ha no Almanaque tres planos de exploracao complementares, de onde saem os primeiros temas e sub-temas: a Europa - o mundo conhecido, as bases da racionalidade ocidental moderna; o mar como passagem, universo de vida, aventuras e sacralidades; o novo mundo que, no Almanaque, escorrega para debaixo do equador, para nossa terra brasilis.

Do ultimo plano transbordam dois conjuntos de ideias presentes no imaginario social brasileiro desde o seculo XVI. De um lado, as representacoes sobre nossa natureza - tao decantada pelos cronistas da epoca, como o paraiso terrestre. De outro, o povo brasileiro, visto como "demonizado", mistura espuria da "indolencia indigena", da "lascivia e da feiticaria negra" e do degredo portugues.

Mots-clés

culture populaire, éducation populaire


, Brésil

Commentaire

Sao essas as tensoes que alinhavam as informacoes, ensaios e humores do Almanaque do Alua. Ele aposta na curiosidade, nas aventuras ultramarinas no seu sentido mais figurado. Pretende, portanto, recuperar as delicias, a ausencia de pecado do lado de baixo do equador.

Por outro lado, quer provocar sacis, as cucas, os curupiras, capetas familiares para abrir brincadeiras, festas, mandingas, adivinhacoes (coisas dos ventos e das conchas)e desmontar verdades do Bem e do Mal.

Este material, cuja tiragem e de 2000 exemplares, foi testado com grupos de leitores, dos meios rural e urbano. A area programada para testagem compreendeu Estados das regioes sudeste, nordeste e sul do Brasil. Os grupos que foram selecionados para o teste estao envolvidos com iniciativas no campo da educacao, producao associada, associacoes, trabalhos comunitarios, etc...

Notes

n. 0 Experimental

Source

Articles et dossiers

AGUIAR, Alexandre, SAPÉ=SERVIÇOS DE APOIO À PESQUISA EM EDUCAÇÃO, SAPE, 1993/02/01 (BRASIL), n. 0

SAPÉ (Serviços de Apoio à Pesquisa em Educaçào) - Rua Evaristo da Veiga, 16 SL 1601, CEP 20031-040 Rio de Janeiro/RJ, BRESIL - Tel 19 55 21 220 45 80 - Fax 55 21 220 16 16 - Brésil - sape (@) alternex.com.br

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