(Alphabétisation : la question des mots générateurs)
08 / 1996
Inicialmente encontrei na turma de Alfabetização, alunos que, em sua maioria absoluta não sabiam escrever sequer o próprio nome. Poderíamos até denominá-los, como geralmente se faz, de "nulos" (!). Daí ter sido o desenvolvimento de atividades que envolvessem o nome do primeiro trabalho realizado: cópia, comparação, reconhecimento e pesquisa de letras em jornal.
Durante esse processo, percebi claramente que os alunos já conheciam algumas letras. Aproveitando-me disso, decidi ampliar tal pesquisa para o alfabeto (maiúsculas, minúsculas, cursivas, de jornal).
Com o interesse aumentado pelas atividades, com jornal e letras "na mão", alguns alunos começaram a demonstrar que conheciam determinadas palavras (do tipo: casa, dedo, bola, mesa). Incentivei, então, a escrita e a pesquisa dessas palavras e verifiquei que era raro um aluno não reconhecer ao menos uma palavra (talvez até decorada; e por que não?).
Como o conhecimento era muito heterogênio e desigual - apresentando pouca ou nenhuma conexão, decidi partir para a introdução de uma palavra que permitisse um trabalho melhor sistematizado de alfabetização. Fizemos um levantamento de palavras que cada um desejava muito aprender a ler e a escrever. A maioria citou nomes de filhos, mãe, pai, irmão ou namorado (a). Decidimos assim realizar uma votação e selecionar apenas uma palavra. A escolhida pela maioria "esmagadora" foi: Jesus.
A princípio achei essa palavra "pobre"para gerar novas palavras e propiciar o acúmulo de conhecimento de novas letras. No entanto, logo percebi, através da discussão, que ela suscitava uma carga emotiva muito forte. Isso acabou por estimular o trabalho e por facilitar o seu reconhecimento (dela mesma e de suas letras). Além disso, a elaboração de frases e textos foi devidamente enriquecida pelas idéias e afetos aos quais permanece ligada.
Em seguida, outras palavras foram sendo selecionadas e estudadas (em níveis fonológicos, semânticos e afetivos)pela turma (tais como: favela, família, educado). Este meu posicionamento era imprescindível: o de orientar a escolha da palavra por seu caráter produtivo (formação de novas palavras, frases, discussões, textos). O aumento do "vocabulário textual" é o ponto crucial do trabalho.
Cabe assinalar que as atividades nunca se restringiam à cópia. Pelo contrário, ela só era (é)utilizada como meio de aperveiçoamento de traços das letras. Coloquei sempre o raciocínio, a observação e a descoberta como aspectos da aprendizagem.
Exercícios de criação de palavras a partir de letras ou sílabas, pequenos debates sobre valor e significado de palavras são e sempre foram a tônica do nosso trabalho de alfabetização. A leitura em grupo ou individual é invariavelmente utilizada, seja no quadro, no caderno, no jornal ou em fichas.
Nesses dois meses e meio, a turma avançou muito. Alunos que aparentemente eram "nulos" já começaram a ler e a escrever, a dominar o mecanismo da leitura e da escrita. Dos 22 alunos que freqüentam com certa assiduidade, apenas 4 aparentemente, não conseguiram avançar muito. Talvez ainda não tenham atingido o seu momento adequado ou necessitem demais tempo para alcançar o que os outros já conquistaram. Resta a mim continuar o trabalho coletivo com vistas a essas particularidades, no sentido de propiciar seu desenvolvimento, mesmo que aos meus olhos ele apareça apenas como mínimo.
éducation populaire, éducation, alphabétisation
, Brésil, Rio de Janeiro
Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.
Récit d’expérience ; Texte original
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