2006
Entre as ecovilas mais conhecidas e bem sucedidas, Auroville – também conhecida como Cidade da Aurora - fica em Pondicherry, in estado de Tamil Nadu, sul da Índia. Nasce da visão da “Mãe” (Mira Alfassa, francesa, colaboradora do sábio indiano Sri Aurobindo), e se declara “uma aldeia ideal dedicada a um experimento de unidade humana”. Tem uma população de cerca de 1700 pessoas, e pretende chegar a 50 mil. Os Aurovilianos têm origem em 35 países e um terço deles são indianos.
O nascimento da comunidade não podia ser mais auspiicioso: em 28/2/1968 umas 5 mil pessoas se reuniram perto de uma figueira de Bengala no centro da futura aldeia para a cerimônia de inauguração, acompanhada por representantes de 124 nações, inclusive de todos os estados da Índia. Todos trouxeram um punhado de terra da sua terra de origem para misturá-lo simbolicamente com a terra de Auroville. A iniciativa, além disso, tinha o aval da UNESCO como experimento de cooperação intercultural e desenvolvimento.
Quando Auroville foi lançada, a terra era carente de toda vegetação, e tempestades de vento e dilúvios de monção freqüentes a privavam ainda mais do magro solo de superfície, cavando ravinas quando a chuva caía e as águas desciam do planalto até o mar. A primeira prioridade destes novos assentados foi criar represas e diques para parar as cascatas de lama das enchentes de monção, e plantar árvores.O entusiasmo dos recém-chegados, aliados ao conhecimento nativo da população local, teve êxito e em 2006, quase 30 anos depois, mais de dois milhões de árvores foram plantadas, se implementaram programas de gestão da água, e os ecossistemas locais foram recuperados.
Inicialmente, não havia eletricidade na área, e os primeiros assentados começaram a instalar moinhos de vento para repisar a água e gerar energia elétrica. Os negócios comunitários trabalharam duro para desenvolver tecnologias de biomassa e solar, e hoje Auroville tem a maior concentração de sistemas de energia alternativa e apropriada da Índia. Especialmente interessante é o enorme coletar solar de 15 metros de diâmetro instalado no telhado da cozinha solar, desenhado para gerar suficiente vapor para cozinhar até mil refeições por dia.
As fazendas de Auroville cobrem 54,6 hectares; a comunidade é auto-suficiente em leito e produz quase a metade de todas as frutas e verduras que consome. Há também um banco de sementes, com uma ampla coleção de variedades de árvores e verduras.
Auroville tornou-se um recurso importante para as comunidades dentro da sua bio-região e na Índia como um todo. Colabora com comunidades locais em catalogar plantas medicinais e coleta de sementes a elas associadas. Trabalhando em parceria com diversas agências, exportou as tecnologias que desenvolveu a comunidades de todo o sub-continente, incluindo 8.700 kits de iluminação doméstica e 550 bombas dágua solares a comunidades no norte da Índia. Em 2003, Auroville ganhou um Prêmio Ashden de Energia Sustentável (o Oscar Verde) principalmente para marcar as realizações da comunidade em reflorestação e energia renovável. Seu Centro de Pesquisa Cinetífica é reconhecido como centro de excelência para todo o país.
O êxito de Auroville se deve a três fatores centrais. Primeiro, no coração da iniciativa está uma forte motivação espiritual que age como poderosa cola comunitária. A guia espiritual proveniente de Sri Aurobindo e da Mãe converge com uma ética de serviço que emerge da localização da comunidade numa das partes mais pobres do mundo para gerar um potente conjunto de valores compartilhados dentro da comunidade. Isto se evidencia nos recursos financeiros e humanos investidos na Matrimandir, o grande domo de meditação localizado no coração da comunidade e, de fato, permeia todo o trabalho comunitário. Segundo, o status de Auroville como poderoso símbolo de esperança e unidade lhe granjeia muitos amigos na Índia e no exterior. Este fato lhe provê uma torrente contínua de voluntários e de generosas doações de indivíduos e agências de cooperação.
Finalmente, a comunidade tem desenvolvido uma vigorosa economia solidária, que tem servido para redistribuir a riqueza financeira dentro da comunidade e para tornar dinheiros individuais disponíveis para o coletivo. Quem pode investir sua poupança no corpo coletivo, abrindo mão dos juros, é convidado a fazê-lo. Entretanto, desde 1999, um ‘sistema circular’ está operando, mediante o qual Aurovilianos, geralmente em grupos de cerca de 20 membros, compartilha sua renda num fundo comum, procurando assim equilibrar as desigualdades. Todos os membros da comunidade têm o direito a uma renda básica mínima. Estes mecanismos têm ajudado a fazer florescer uma economia comunitária com certa de 125 empreendimentos que são propriedade do coletivo, ativos na manufatura e no vareja de artesanato, computadores e alimentos, além de construção, energia e tecnologias de tratamento de orgânicos e outros dejetos.
Mais informações: auroville.org/
écologie urbaine, village, construction communautaire, technique de construction
, Inde
Tradução e divulgação: PACS, Rio de Janeiro, julho de 2010.
Autor: Jonathan Dawson,
Fonte: “Ecovillages – New Frontiers for Sustainability”, 2006. Schumacher Briefings n. 12. Bristol, UK.
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