Dois sentimentos ficaram evidentes quando falamos de nossas expectativas em relação ao mini-seminário realizado pelo BAM em 28/6/96: o medo e a impotência diante da Matemática. Ela continua sendo o "bicho-papão" dos nossos tempos de escola, classificando, arbitrariamente, os homens em inteligentes ou pouco dotados.
Os processos mecânicos utilizados no ensino dessa disciplina, "nobre" e universal, enrijeceram as nossas formas de pensar matematicamente. Memorização e resposta correta foram sempre valores em alta na escola.
Enquanto nas áreas da leitura e da escrita os estudos têm avançado e possibilitado práticas mais interativas e produtivas, a falta de maiores investimentos na área da Matemática contribuem para nossa impotência em lidar com ela. Constatamos as formas espontâneas e muito próprias que nossos alunos utilizam para resolver os desafios matemáticos que a vida e o trabalho lhes impõem, mas continuamos ignorando os processos que desenvolvem para chegar ao conhecimento que revelam. Em conseqüência, não conseguimos ajudá-los a estabelecer a conexão entre os raciocínios que já elaboram e a forma escolar de desenvolver e representar simbolicamente esses raciocínios - o "X" da questão.
No decorrer do seminário, sob a mediação do Professor Luiz Antônio Garcia, vivemos o papel de alunos e ao mesmo tempo repensamos nossa prática pedagógica. A conversa caminhou o tempo inteiro a partir de DESAFIOS. Todos bastante diferentes das situações matemáticas normalmente encontradas nos livros ou quadros-de-giz escolares: "qual a altura aproximada de um prédio de 10 andares?"
Fazer estimativas é um procedimento excelente para acionar o pensamento e evitar resultados absurdos. Todas as respostas apresentadas foram analisadas em suas implicações:"Se o prédio mede 15m, qual a altura de cada pavimento? Como chegamos a esse resultado? É possível um pavimento com um metro e meio de altura?
Pensamos diferentes unidades para medir o tempo: o Século XX terminará em que ano?
O ano tem 365 dias e sobram 6 horas. O dia tem 24 horas. Quais as relações entre esses números, os movimentos da Terra e o que chamamos de ano bissexto?
Analisamos a planta de uma construção. Muitas relações estabelecidas, conteúdos analisados, operações realizadas significativamente!Com palitos de fósforo "brincamos" de construir plantas, figuras geométricas; calcular área, perímetro, usar escala...
As atividades provocaram o envolvimento de todos. O sentimento novo era de prazer. A Matemática virava um jogo. As pessoas interagiram, expressando e confrontando suas idéias. Quando a solução parecia impossível, uma pista, no momento oportuno, ajudava o grupo a avançar. O trabalho em duplas favoreceu.
Muito importantes foram as "manobras radicais" que o nosso pensamento precisou realizar diante dos desafios apresentados. No entanto, precisamos de tempo e trabalho para desmontar a rigidez e linearidade do nosso pensar matemático.
Não tem outra saída, senão fazer o caminho do pesquisador! Viver junto com o aluno o processo de redescobrir a Matemática, admitindo que é essencial formular/propor desafios e estar atento para identificar, valorizar e confrontar os diferentes processos que cada um de nós, professores e alunos, percorremos entre o desafio e a resposta.
Assim, estaremos criando uma postura nova, de encantamento e criação em relação à Matemática, além de estarmos cumprindo o papel político que esta área deve ter na formação de educadores e educandos: a forma de ensiná-la e aprendê-la precisa anunciar o homem que pensa, que crê na sua possibilidade de enxergar os problemas da realidade e buscar em conjunto soluções originais para transformá-la.
educación popular, educación
, Brasil, Rio de Janeiro
Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.
Texto original
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