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diálogos, propuestas, historias para una Ciudadanía Mundial

Ética e Violência

Alexandre AGUIAR

06 / 1997

Dois recentes casos de violência que chocaram a opinião pública nacional (porque foram amplamente divulgados pela mídia)nos levam, mais uma vez, a pensar na questão da violência urbana como um grave problema ético desse final de milênio. Se até agora, a sociologia, a economia e a história vinham nos servindo de suporte teórico para uma análise mais aprofundada sobre a questão da violência urbana no Brasil e no mundo, parece-nos, hoje, cada vez mais claro, que somente a reflexão ética - que inclua, evidentemente, as contribuições de diferentes áreas do conhecimento - pode nos tornar verdadeiramente "cidadãos e pessoas morais", como diz o professor Jurandir Freire Costa. Resgatando em nós o sentido perdido de solidariedade, "de responsabilidade pelo bem comum", de direito e obrigação incluindo aqui o direito que todo ser humano tem de satisfazer as suas necessidades básicas de alimento e abrigo, e de ser livre para realizar os seus projetos de uma vida feliz.

A Violência policial cometida contra cidadãos e flagrada por cinegrafistas amadores nos Bairros de Diadema (São Paulo)e Cidade de Deus (Rio de Janeiro), no último mês de abril; e o caso do índio pataxó, morto por jovens da classe média em Brasília, alguns dias mais tarde (19/04/97)em uma suposta "brincadeira de meninos", serviram para provocar, mais uma vez, a indignação em todos nós. Mas, indignação somente não basta e parece, também não nos fazer tocar na gravidade da questão. Principalmente quando essa indignação dura apenas o tempo da exploração sensacionalista dos noticiários de TV ou quando é motivada por uma análise pouco rigorosa e as vezes até distorcida de acontecimentos que não deveriam nunca ser analisados isoladamente. Segundo, ainda, o professor Jurandir Freire, em entrevista sobre o caso do índio pataxó ao Jornal do Brasil em 27/04/97, "vivemos numa cultura moral onde o progresso tecnológico e a curiosidade científica vêm sendo usados como instrumentos para a fabricação de uma visão de mundo que pode favorecer e induzir a existência de crimes do gênero."

Um artigo da deputada Marta Suplicy, também comentando o caso pataxó, publicado pela Folha de São Paulo (4/5/97)cita um caso semelhante ocorrido nos EUA na mesma semana do caso de Brasília, e parece confirmar que há algo de errado com a formação moral em nossas sociedades: dois adolescentes daquele país, um de 18 anos e outro de 17, mataram dois entregadores de pizzas também, como no caso dos jovens brasileiros, por "brincadeira" ou para "sentir a emoção de matar uma pessoa". Segundo a deputada que é também psicanalista e membro da Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, o que há de comum entre os jovens americanos e os brasileiros, igualmente "bem nascidos", é que eles têm "a mesma programação violenta de televisão e a sociedade de consumo, na qual as pessoas valem pelo seu status e não como seres humanos."

Essa violência transmitida diariamente pela televisão causa, segundo a psicanalista, uma quantidade de estímulo e de excitação nesses jovens que quando eles se reúnem para se divertir, querem obter o mesmo "nível de excitação". E o que fazer, para isso? "A resposta é dada com clareza pelos assassinos adolescentes dos dois países: "era para dar um susto nele" "Era para sentir a sensação".

No caso da violência policial de Diadema e Cidade de Deus, temos a impressão de que, para aqueles policiais deve valer a mesma "sensação". E vale também o absurdo das argumentações e da intenção de justificar seus atos criminosos: para os garotos de Brasília fazia diferença, se no lugar de um índio fosse um mendigo; para os policiais - e o que é pior, para grande parte da sociedade, também - a tortura, a humilhação, o espancamento podem ser justificados ou não desde que não se trate de "pessoas de bem" ou que não se passe diante de câmeras de televisão. Em março de 1995, também diante das câmeras de TV um assaltante foi rendido pela polícia, depois de uma tentativa de assalto a uma drogaria de um movimentado Shopping carioca, desarmado ele foi levado para trás de um automóvel e friamente assassinado. Por não se tratar de "pessoa de bem" muitos aprovaram o ato do policial com a simples ressalva de que não precisava ser diante das câmeras de televisão, uma estranha lógica. O fato é que, como diz Marta Suplicy em seu artigo, "quando os direitos humanos só valem para alguns, acabamos todos correndo riscos".

Pois bem, se considerarmos que as noções de sociedade, direitos e obrigações, justiça e injustiça, solidariedade, propriedade, etc não nascem com o ser humano e que, segundo alguns teóricos, são inclusive noções contrárias à natureza humana, devemos resgatar o mais urgentemente possível o velho papel da família e da escola como lugares privilegiados para uma reflexão ética em que consideremos os princípios mais elementares da convivência.

Por ocasião do caso pataxó o governador de Brasília, Cristóvam Buarque, determinou que todas as escolas do Distrito Federal dedicassem um dia para discutir o assunto com seus alunos. No Rio de Janeiro, o vereador Fernando William, fez uma indicação semelhante à Câmara Municipal. Apesar de bastante louváveis as iniciativas desses políticos, essas são discussões que deveriam fazer parte do currículo escolar e não serem motivadas apenas pela indignação do momento. Cabendo a nós, educadores, lutar para que isso ocorra.

P.S.: Essa ficha já havia sido terminada quando o Jornal do Brasil (20/06/97)trouxe em manchete de primeira página duas notícias que, infelizmente, parecem confirmar a atualidade desse tema: mais um caso de mendigo incendiado enquanto dormia, no Centro do Rio; e a absolvição, em júri do Rio de Janeiro, do PM Nelson Oliveira dos Santos Cunha participante confesso da chacina da Candelária, onde foram assassinados 8 meninos de rua, em julho de 1993.

Palabras claves

ciudadanía, educación popular, educación


, Brasil, Rio de Janeiro

dosier

Estimular o registro e a sistematização de experiências pedagógicas

Notas

Alexandre faz parte da equipe do SAPÉ, integra os Coletivos de educadores de Jovens e Adultos do Rio de Janeiro e de Pernambuco. É membro da equipe do BAM.

Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.

Fuente

Texto original

SAPÉ (Serviços de Apoio à Pesquisa em Educaçào) - Rua Evaristo da Veiga, 16 SL 1601, CEP 20031-040 Rio de Janeiro/RJ, BRESIL - Tel 19 55 21 220 45 80 - Fax 55 21 220 16 16 - Brasil - sape (@) alternex.com.br

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