CAD - 3

Avaliaçao interna

O CAD realiza hoje acções de apoio que não podiam ser imaginadas no seu início. Não havia, a nível nacional, qualquer experiência deste tipo, a luta contra o desemprego seguia uma via clássica da reivindicação de trabalho. Por outro lado, cada um dos elementos que trabalhavam no CAD, como "assalariados" ou como voluntários, não tinha praparação técnica para o que hoje fazem. Foi a acção de solidariedade que obrigou a estudar e a aprender. Em Portugal o CAD é uma experiência pioneira e única até ao momento, na forma como os trabalhadores foram capazes de resolver os seus problemas de desemprego. A organização em equipa de trabalho com a discussão dos problemas, a metodologia da acção enfrentando e resolvendo os problemas, os laços sociais estabelecidos entre eles e com os outros, foram solucionados de modo inovador.

Foi-se desenvolvendo a capacidade de negociação, a partir de nossa própria situação, sem transigir no essencial com os princípios, e fazendo dela um instrumento de trabalho posta ao serviço dos trabalhadores. A fidelidade aos princípios de partida, a solidariedade social e a luta pela manutenção ou obtenção dos postos de trabalho, têm sido uma costante que dá coerência ao nosso projecto permitindo reforçar os laços internos e externos. De todo este processo resultou uma grande experiência em vários domínios. O modo como nos organizámos para obter rápidamente os subsídios, a transformação duma estrutura provisória e o modo como ela foi evoluíndo, o relacionamento institucional, bem como as dificuladades de vária ordem superadas pelo apoio prestado por pessoas e organismos, são aquisições importantes para poder ajudar outros a reflectir a partir da nossa prática. A nivel institucional o CAD ganhou respeito devido ao trabalho realizado bem como a todo um conjunto de acções de sensibilização junto dos seus responsáveis. O sucesso da inixiativa polariza-se em 4 pontos:

- a solidariedade que motivou e motiva toda a acção;

- a capacidade de mobilizar um conjunto de esforços individuais e organizacionais;

- a fidelidade aos principios de justiça e solidariedade;

- a capacidade de transformação do processo passando duma fase voluntarista para uma mais organizada e estruturada.

Avaliação externa

A crise que a região de Setubal atravessou nos anos 90 traduziu-se numa situação de flagelo social com milhares de desempregados. Esta situação provocou nos trabalhadores e nas sua organizações dificuldades para fazerem face à situação. De igual modo as instituções oficiais não estavam praparadas para responderem a uma crise de tão grande amplitude. E’ nesta conjuntura que o CAD emerge. Algumas centenas de ex-desempregados, apoiados pelo CAD, têm hoje uma actividade económica independente com algum sucesso, enquanto os seus "agentes" se encontram na iminência de não terem mais financiamentos públicos. E’ esta perspectiva que tem levado à procura de novas soluções com organização de serviços de apoio a essas e outras micro-empresas. A postura solidária que ele assume, desde o início, numa interacção directa com os trabalhadores despedidos, marca a sua estrutura organizativa e toda a sua acção.

Ainda hoje o grupo mantem-se marcado por um certo "obreirismo" assistencialista. No início tudo era gratuito , mesmo quando os "agentes" do CAD deviam pagar do seu bolso (do seu subsídio de desempregado)despesas de deslocação e outras, referentes a diligências para receber as indemnizações de desempregados ou financiamentos, a fundo perdido, para a criação do próprio emprego. Esta situação mudou, face a um pedido de apoio técnico mais sistemático à Cooperativa SEIES. Esta pôs como questão a discussão dos "honorários" a que ela tinha direito na sua actividade profissional. Essa negociação com a discussão dos custos de funcionamento e de intervenção do CAD e daquela cooperativa, permitiu estabelecer objectivos de funcionamento solidário, mas não caritativo, buscando financiamentos, e não "esmolas", fazendo pagar serviços minimos na elaboração técnica de projectos para obtenção de financiamentos.