O futuro e o potencial. Como possibilidade e desafio ele e agora e nao algo que esta, linearmente, para depois. Dessa forma, os conceitos de futuro e de educacao se aproximam, concebendo-se educar como extrair o que ja esta presente, de forma latente, potencial.
Neste sentido, nao e uma contradicao afirmar que muitas das contribuicoes do chamado passado, vindas das tradicoes de sabedoria, das experiencias historicas, do saber popular sao parte deste futuro.
Tambem e parte deste agora/futuro a sabedoria que nos leva ao autoconhecimento: conhecimento do nosso corpo, das nossas necessidades, bem como dos niveis de experiencia que nos conectam com os nucleos do nosso ser e com o universo.
A ampliacao e a aceleracao das comunicacoes, do transporte e do comercio criam uma realidade cultural nova, caracterizada pela conexao instantanea, em alguns casos, e altamente interativa em outros, entre individuos de diversas culturas, racas e nacoes.
Esse processo de ampliacao do espaco vital-cultural de cada individuo processa-se pela expansao de seus sentidos via recursos tecnologicos. Por exemplo: a televisao permite ver um acontecimento no outro lado do mundo ou no espaco, no momento que ele ocorre; o telefone permite ouvir uma voz distante a milhares de quilometros; as redes educativas, operando a baixo custo, permitem a interacao de criancas de diferentes paises sobre topicos tao diversos quanto um experimento de biologia ou os costumes locais.
Mas esse movimento nao e linear nem unidirecional. No processo de globalizacao, nao somente alca o individuo do local ao planetario, mas tambem quebram-se identidades nacionais, ideologicas e politicas. Nesse processo ha um movimento aparentemente inverso de desagregacao.
As consequentes mudancas de visao de mundo e quebra de lacos afetivos, religiosos e de lealdades pessoais constituem elementos centrais da crescente desagregacao social e da violencia na sociedade contemporanea. Como num grande quebra-cabeca, as pecas foram desmontadas da sua matriz inicial e nao sabemos como rearticula-las. So sabemos que a matriz inicial se esgotou e nao mais serve de modelo para rearranjar as pecas com a fluidez e dinamismo exigidos pelos novos tempos.
Nessa desagregacao ruiram as bases da percepcao de "quem sou eu", de "que mundo eu habito", de "como eu afeto ou sou afetado pelos processos cosmicos, da biosfera, da sociedade e da minha propriamente". Novos conhecimento passaram a ser vitais na busca de um novo entendimento, de uma nova descoberta da nossa condicao de humano. Certamente este processo pede uma nova educacao.
Parece contraditorio dizer que a desagregacao faz parte de um movimento de globalizacao. Na verdade, a desagregacao, a divisao, a quebra fazem parte do processo de descoberta, de superacao dos limites e estruturas que aprisionam o conhecimento e a liberdade.
As quebras sao inevitaveis nas expansoes, as crises sao possibilidades de crescimento.
Nao conseguimos, ainda, viver as transicoes sem violencia e destruicao. Esta seria uma das principais tarefas de uma educacao voltada para a paz: aprendermos a viver no fluxo das mudancas.
Na base desta educacao estaria a capacidade de entendimento cross-cultural, inter-regional e internacional das multiplas etnias e especificidades de cada sexo. Este entendimento comeca com o conhecimento e a valorizacao das proprias raizes culturais e da situacao cotidiana de cada crianca, de cada pessoa.
A emergente sociedade do conhecimento vai requerer, cada vez mais, que cada espaco se torne um "ambiente de aprendizagem". De fato, muito do que sabemos hoje nao aprendemos na escola: vem da familia, da midia, das igrejas e associacoes, das empresas e organizacoes profissionais. E qualquer projeto de democratizacao do conhecimento requer que a educacao seja uma prioridade basica em todas estas instituicoes.
Qualquer projeto de democratizacao do conhecimento requer uma revisao radical da escola atual, limitada pela segmentacao curricular e pela burocratizacao dos aparelhos de Estado. Requer da escola compromisso com o cotidiano, com o afeto e com as potencialidades dos alunos.
O que se pode esperar de profissionais interessados na educacao do futuro e a continuacao de uma ampla e aprofundada reflexao sobre o tema; uma interacao mais intensa entre profissionais envolvidos com experiencias inovadoras em diversos locais do Pais e do mundo; e a estimulacao de todos os setores ativos da sociedade a se engajarem nesse processo de buscar saidas praticas e criativas, na sua esfera de atuacao, para que todos possam construir pontes efetivas com o conhecimento.
Carlos Alberto Emediato e sociologo, doutor em Educacao. Consultor educacional e um dos organizadores da Conferencia Internacional de Educacao do Futuro que aconteceu em Sao Paulo entre 4 e 8 de outubro de 1993.
Artigos e dossiês
EMEDIATO, Carlos Alberto, CEDI=CENTRO ECUMENICO DE DOCUMENTAÇAO E INFORMAÇAO, CEDI in. TEMPO E PRESENÇA, 1993/11 (BRASIL), N. 272
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