08 / 1993
Durante o Intercambio Bilateral Sul do Brasil- Colombia, na cidade de Ocana interior do pais. Era noite de jogo de futebol das eliminatorias da Copa America. Fomos todos (nos brasileiros em solidariedade ao colombianos), assistir ao jogo Colombia e Argentina em uma pizzaria. Caminhavamos pela rua de volta ao hotel, tristes pela derrota da Colombia, quando comecaram a estourar fogos de artificio. No outro lado da calcada tres soldados, armados com metralhadoras, nos observam. Um quarto soldado esta em uma esquina a nossa frente. Estamos em fila, os nossos amigos colombianos na frente e nos brasileiros atras. Estouram mais fogos de artificio e o soldado que esta na calcada em frente olhou para a rua transversal, engatilhou a metralhadora e chamou com o braco os outros tres soldados que automaticamente engatilharam e armaram as suas metralhadoras se colocando em posicao de combate e atravessando a rua em nossa direcao. Os colombianos estavam de costas para os tres soldados, nos brasileiros, nos assustamos e nos protegemos no muro de uma casa. Gritamos para os colombianos, que se viraram olharam para tras, viram os soldados em posicao de combate, e calmamente vieram conversar conosco. Contamos que vimos os soldados armando e engatilhando as metralhadoras e eles nos disseram que isso e comum, normal, aqui! Carlos nos explicou que isso e tao cotidiano que eles nao se assustam mais. Mauricio disse que nos preparassemos, pois a qualquer momento eles poderiam mandar-nos encostar na parede, nos revistar, armando as metralhadoras. Disse para nao ficarmos preocupados que era rotina. Ficamos impressionados, com essa violencia, esse estado de guerra, principalmente quando vemos com que naturalidade o povo, as criancas, todos tratam este estado violento e militarizado. Eles nao tem policias militares, e o exercito que esta nas ruas, com tanques e metralhadoras. Os politicos tradicionais e os jornais daqui dizem "violento pero estavel". As pessoas convivem muito com a possibilidade da morte, talvez agora de para entender melhor porque eles fazem tantas piadas sobre a morte. A risada ajuda a romper o trauma na tragedia, diz Mauricio.
Um pouco antes de sair do Brasil, vimos uma foto da favela da Rocinha no Rio de Janeiro, onde aparecem criancas tranquilamente sentadas ao lado de policiais que estao com metralhadoras fazendo uma blitz no morro. A violencia no Brasil ja e grande e esta crescendo, mas se restringe ainda as periferias das grandes cidades e a algumas regioes camponesas. Ficamos pensando se o que estamos vendo na Colombia, nao sera o "efeito orloff" do Brasil: eu sou voce amanha.
Nossa estadia em Ocana fez parte da segunda etapa do Intercambio Bilateral Sul do Brasil (DIALOGO)- Colombia (CINEP-ENDA)realizada durante os dias 26/6 a 06/7 de 1993.
Outro
SOUZA, Marcio Vieira de, DIALOGO-CULTURA E COMUNICACAO
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