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Economia Popular e Cultura do Trabalho

Proposta de açao-pesquisa com os trabalhadores dos Grupos de Produçao

Hermila FIGUEIREDO, Lea TIRIBA

12 / 1996

1-Quem somos nos?

Antes de apresentar a proposta de acao-pesquisa que iniciamos junto aos Grupos de Producao, e preciso que nos apresentemos como pessoas e, ao mesmo tempo, como equipe de trabalho. Somos um grupo de pesquisadores do PACS - Instituto Politicas Alternativas para o Cone Sul que, em conjunto com a UFF-Universidade Federal Fluminense vimos desenvolvendo acoes-pesquisas sobre ’trabalho-educacao’ junto aos movimentos de trabalhadores. Compreendendo que a pratica de vida e de trabalho e fonte de producao de saber, nosso objetivo vem sendo procurar os caminhos que favorecam o encontro dos diferentes saberes produzidos pelos trabalhadores, tendo como perspectiva que a acao cotidiana se converta em um novo conhecimento, e o conhecimento em uma nova acao transformadora do mundo do trabalho e da realidade maior em que vivemos.

2-Atualmente, que acao-pesquisa estamos desenvolvendo?

Depois de acompanhar o processo autogestionario na Remington (1991-94)e de viver a experiencia do I Seminario Nacional de Autogestao (setembro/93), iniciamos em janeiro/95 a pesquisa "Economia Popular e Cultura do Trabalho". O objetivo desta nova acao-pesquisa e identificar os avancos e desafios dos processos produtivos que sao fruto da iniciativa popular e que, embora gestados no interior da logica do mercado capitalista excludente, desenvolvem relacoes sociais que estimulam o trabalho participativo e solidario. Nossa intencao e, a partir da realidade concreta das experiencias alternativas de trabalho, pensar quais as potencialidades e como tornar viavel a economia popular diante de um contexto de reestruturacao produtiva e de globalizacao da economia mundial. Depois de buscar nos livros o que ja se havia escrito sobre o tema, a partir de agosto/96 comecamos a desenvolver aquilo que chamamos ’trabalho de campo’. O trabalho de campo e uma fase da investigacao em que os pesquisadores vao buscar no ’chao-de-fabrica’, no dia-a-dia do processo de trabalho, os elementos concretos para compreender o problema em questao. Assim sendo, nesta pesquisa elegemos como campo alguns Grupos de Producao localizados no Grande Rio, os quais assessorados/acompanhados por organizacoes nao-governamentais, vem compreendendo a necessidade de implementar uma economia de solidariedade como estrategia coletiva de sobrevivencia e como estrategia de vida.

3-Por que acreditamos que e importante desenvolver uma acao-pesquisa junto aos trabalhadores dos Grupos de Producao ?

O desemprego e o aumento significativo da pobreza no chamado Terceiro Mundo tem levado os setores populares a buscar alternativas de trabalho e de renda. Dentre as mais variadas formas para tentar assegurar suas necessidades basicas, os trabalhadores tem se organizado coletivamente para gerir seu proprio empreendimento. No entanto, embora exista uma grande quantidade de experiencias deste tipo, acreditamos que nem todas representem a possibilidade do novo, a medida em que muitas delas reproduzem, de alguma maneira, as caracteristicas da velha logica capitalista, em que os frutos do trabalho e apropriado em beneficio de poucos. Trabalhando numa outra perspectiva, tambem podemos encontrar muitos exemplos de experiencias populares que, ao se constituirem como um processo educativo de construcao de uma nova organizacao do trabalho, anunciam a criacao de uma nova logica para a producao, nao voltada para o enriquecimento proprio, mas para atender aos direitos fundamentais de bem estar da coletividade. Neste sentido, nossa preocupacao como cidadaos e pesquisadores tem sido como, de fato, contribuir para tornar estas experiencias viaveis tanto no plano economico, propriamente dito, como tambem no plano das novas relacoes que os trabalhadores estabelecem entre si, com o seu trabalho e com os demais trabalhadores da sociedade. Considerando que a economia popular de solidariedade se constroi no interior de uma sociedade em que predomina a logica do mercado e o enriquecimento individual em detrimento do coletivo, os grupos de producao vem enfrentando grandes desafios.

Palavras-chave

autogestão, economia popular, estratégia de sobrevivência, trabalho


, Brasil

Fonte

Texto original

PACS (Instituto Politicas Alternativas para o Cone Sul) - Av. Rio Branco, 277, sala 1609 – Centro – Rio de Janeiro - RJ - BRESIL - CEP: 20.040-009 - Fone/fax: (21) 2210-2124 - Brasil - www.pacs.org.br - pacs (@) pacs.org.br

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