Neste ano de 1995, especificamente do 2o semestre, comecamos atuar em Santa Teresa na area da Educacao Infantil. Santa Teresa e um bairro de classe media da cidade do Rio de Janeiro, situada num dos morros mais conhecidos e simpaticos desta metropole. Sua localizacao permite o acesso por diversos pontos da cidade, do centro, a zona norte e a zona sul. Seus moradores sao profissionalmente ligados a area intelectual e artistica que escolheram este bairro para viver exatamente por ainda possuir caracteristicas de um Rio de Janeiro bom para morar: area verde, montanha, ar fresco, casaroes antigos, ladeiras e bonde. Mas em Santa Teresa, como nao podia deixar de ser, tambem coexistem pessoas bastante empobrecidas, que lutam no seu dia-a-dia com grande dificuldades, moradoras das favelas que circulam o morro. Sao 13 (?)favelas ao todo, que cotidianamente sofrem com os perigos do trafego, da miseria e opressao. Sao favelas sem saneamento, servicos de saude, educacao e tantos outros beneficios necessarios para uma vida minimamente digna. Em nenhum destes morros/favelas existem creches funcionando. As criancas moradoras no bairro (asfalto ou favelas)sao atendidas em sua maioria pelas escolas da rede particular ou por uma unica creche comunitaria que funciona, no centro cultural existente em Santa Teresa, contra a vontade da diretoria do mesmo.
Muito timidamente, num dos morros que circula o bairro, nos Prazeres, se ve renascer, muito precariamente, uma experiencia de creche comunitaria, que por ordem da secretaria municipal responsavel pelo apoio publico a este servico, teve que ser fechada por falta de condicoes de funcionamento, na visao de seus tecnicos.
Existe tambem uma professora, Maria, que aluga uma salinha num condominio de classe media, atendendo criancas das favelas visinhas, que pagam uma mensalidade minima que garante apenas o seu sustento.
No 1o semestre de 95, Santa Teresa foi invadida por traficantes de quadrilhas de organizacoes rivais, deixando seus moradores apreensivos, extasiados e alguns, em pânico. As vias de acesso foram fechadas, ficando o bairro completamente sem comunicacao com outras localidades. Algumas escolas tiveram que parar de funcionar temporariamente, e o unico tema possivel de discussao era a situacao de violencia em que se encontrava, nao so Santa Teresa, mas todo o Rio de Janeiro.
Com este episodio que deixou nao apenas os habitantes de Santa Teresa indignados, surgiu um outro sentimento em relacao a situacao presente: que alguma coisa precisava ser feito para, se nao resolver, pelo menos para amenizar o clima de violencia, medo e opressao que se encontravam tanto as pessoas de melhor situacao economica, quanto aquelas que verdadeiramente se encontravam em baixo de fogo cruzado, nas favelas.
Dai entao, surge a ideia de realizar acoes cidadas no bairro, puxadas por diversos movimentos de solidariedade.
Algumas escolas particulares por exemplo, participaram ativamente deste movimento, engajando os alunos, seus pais e professores em atividades como mutirao para coleta de lixo em morros, doacao de utensilios e alimentos para creches, etc.
Em agosto de 95 fizemos uma reuniao com diversas forcas politicas do bairro na area de educacao infantil com a ideia inicial de apoiar experiencias de creches comunitarias, tendo em vista a precariedade deste tipo de servico no bairro, focalizando a acao principalmente no morro do Prazeres, por estar reiniciando seu trabalho de creche e por coincidentemente ser uma das favelas mais atingidas com a guerra do trafico.
favela, condições de vida, pobreza, educação, criança
, Brasil, Santa Teresa
Documento de trabalho
FREIRE, Adriani Pinheiro
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