Uma alternativa pedagogica de acesso e construçao da informaçao
07 / 1995
O programa DPH nao deve limitar-se a producao de fichas dentro de uma concepcao tradicional de sistematizacao da informacao segundo a qual, grupos, movimentos ou qualquer tipo de coletivo humano aparecem retratados segundo a otica exclusiva do autor da ficha.O educador brasileiro Paulo Freire, conhecido mundialmente por sua "Pedagogia do Oprimido" ja afirmava, no contexto do surgimento dos movimentos de educacao popular na decada de 60 no Brasil: " Ninguem educa ninguem. Ninguem educa a si mesmo. Os homens educam-se entre si mediatizados pelo mundo". Dentro desta concepcao, estabelecer relacoes humanas e um passo fundamental no processo de producao da informacao, ou seja, no processo educativo. Assim, o programa DPH pode contribuir para alimentar esses processos de producao da informacao, onde importa, alem do resultado da ficha em si, tambem o processo educativo que desencadeou. Buscar alternativas que potencializem o programa DPH como um programa de formacao-informacao e um dos desafios da rede.
Dentro desta preocupacao, o tempo de producao da ficha pode ser aproveitado para gerar um momento educativo para grupos de base, por exemplo.E o caso do recem-produzido video "Terra e Vida Catarina", no qual as fichas DPH foram construidas pelos assessores de DIALOGO -Cultura e Comunicacao em conjunto com as liderancas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra, num processo participativo cujo resultado final foi o video. As fichas serviram como registro das inumeras discussoes para a confeccao coletiva do roteiro do video, sistematizando os diversos pontos de vista dos tecnicos e dos trabalhadores rurais. Ao final do processo, alem de servir para a confeccao do roteiro em si, serviram tambem para divulgar o material e a experiencia coletiva em publicacoes e algumas delas puderam integrar a base de dados DPH.
Outro exemplo de producao da informacao DPH de forma participativa foi o caso do curso de jornalismo popular ministrado pelos assessores de DIALOGO junto ao mesmo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem-terra. Os exercicios praticos do curso foram a construcao de artigos jornalisticos pelos proprios trabalhadores rurais que resultaram em informacoes importantes que serviram como subsidio para fichas que assim, puderam atuar como veiculo do ponto de vista mesmo dos proprios agricultores.
Estes exemplos nao excluem o papel do mediador, do assessor, do tecnico. Nao se pode esquecer que no Brasil, por exemplo, e grande o analfabetismo ou o semi-analfabetismo. Assim, o documentalista, o educador, o jornalista,etc, cumprem importante papel tecnico facilitador da producao da ficha. Em alguns casos, por exemplo, o assessor ou o tecnico redigem a ficha, mantendo a preocupacao de que o ponto de vista ai expresso tenha congruencia com as opinioes dos componentes dos grupos cuja experiencia esta relatando. Um exemplo pratico e o caso da ficha sobre a experiencia da Radio Cabocla, de Florianopolis. A ficha foi escrita pela assessoria do DIALOGO, a partir de depoimentos dos comunicadores populares da radio. Apos ser escrita, foi lida em conjunto, os comunicadores populares fizeram observacoes e adendos e a ficha foi novamente reescrita ate ser finalizada englobando os diversos pontos de vista Alem do exercicio coletivo de elaboracao e reflexao sobre sua propria experiencia a pretexto da ficha, a ficha em sua forma final contribui para o registro da memoria coletiva desta experiencia .
Nao somente a producao da informacao possibilita a participacao. Tambem a utilizacao possibilita momentos coletivos educativos para os grupos de base. As fichas de DIALOGO ja foram utilizadas como documentacao para valorizar experiencias locais de forma a fortalece-las em demandas de projetos de grupos comunitarios junto a Prefeituras, por exemplo, ou em apoio a lutas especificas, como a luta da Radio Popular Cabloca para provar a legitimidade de seu trabalho junto a policia, apos ter sofrido um atentado feito por grupos conservadores.Atraves da publicacao,o registro em fichas DPH logrou divulgar experiencias que nao sao enfocadas pelos meios tradicionais da comunicacao de massa, evitando que fossem relegadas ao esquecimento. A ficha DPH pode servir tambem de subsidio a eventos tematicos ou como material pedagogico para animar grupos de reflexao social de base que nao tem acesso a informacao produzida em outros circuitos.
metodologia
, Brasil, América Latina
A producao de fichas DPH nao pode obedecer a uma formula estabelecida. Nao ha verdades unicas ou um unico caminho para a producao e utilizacao da informacao DPH. Os exemplos acima citados visam apenas transmitir a utilizacao que por vezes fazemos da ficha DPH pronta, ou no processo de sua confeccao. Isto nao significa que toda ficha deva ser produzida ou utilizada de forma participativa. O registro da informacao feito de maneira diferenciada, conforme o contexto de cada grupo da rede DPH e um elemento valioso para o avanco do programa, desde que, evidentemente, esteja de acordo com os principios que a rede tem estabelecido durante seus encontros anuais e em seus documentos-guia. O relato destas experiencias pontuais de producao e uso participativa visam contribuir e somar as inumeras e tambem ricas experiencias de outros grupos da rede DPH e nao devem ser tomadas como um modelo, apenas como experiencias desenvolvidas em determinado contexto e a partir de determinadas necessidades.
Outro
TRAMONTE, Cristiana, DIALOGO CULTURA E COMUNICACAO
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