07 / 1994
O municipio de Abelardo Luz, estado de Santa Catarina e um dos mais importantes para o Movimento dos Trabalhadores Sem- Terra do estado. Sao cerca de 11 assentamentos, frutos de muita luta dos agricultores. Somente no assentamento Fogo na Ponte, por exemplo sao 63 familias, das 750 do total do municipio . A produçao agricola consta basicamente de milho, arroz, feijao e ja teve inicio tambem a produçao de soja. As vendas sao realizadas em Abelardo Luz e no vizinho municipio de Araça nos quais as empresas de Coronel Freitas e Xaxim vem buscar a produçao.
A nivel local, o MST organiza-se com uma comissao regional dos assentados composta por um representante para cada 50 familias. Ha escola e agentes de saúde em todos os assentamentos.
Quanto a violencia, condiçoes de vida e trabalho nos assentamentos de trabalhadores rurais, Tereza e o marido declaram: "O motivo e o desespero. O pessoal nao consegue fazer o que quer. Aqui e muita mistura de gente; raça, lugar, cada um com seu costume, nao e facil de fazer uma comunidade. Ate que encaixe tudo, nao e facil". "Para o jovem so tem futebol e dança. Mas nao tem lugar público para dançar. Quando a dança e na casa, nao tem confusao." "Estamos cada vez mais falidos. Da terra nao se consegue tirar o lucro para investir de novo. Precisa muito investimento. Investi 100 saco de milho e colhi 75. Como vamos fazer ano que vem?" "Esta se buscando alternativas: fumo,etc. porque só a lavoura e complicado. quando o governo estadual e diferente do municipal eles alegam que nao pode fazer nada". "Para entrar numa integraçao de suino nao da, porque eles sabem que somos acampados, e uma classe inferior. Vem com uma desculpa, que tem que ter o titulo da terra. Ai vai para o INCRA* e ele te enrola de novo."
Garantir a escolarizaçao basica para os filhos de agricultores tem sido outro grande desafio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do estado de Santa Catarina. No municipio de Abelardo Luz, 60% dos alunos vivem nos 11 assentamentos de trabalhadores rurais, como informa Tereza, agricultora e professora da escola basica local. No Assentamento 25 de maio que tem 58 familias ,por exemplo, existem mais ou menos 80 alunos de 1ª a 6ª serie (ate 4ª sao 45), declara a professora primaria e agricultora Solange: "O que eu aproveitei das Oficinas foi fazer a revisao de 1ª a 4ª. O livro nao foi fornecido a professores ou alunos. Preocupei-me mais com o que tinha que dar. Uma coisa que dificultou foi falta de fonte de pesquisa bibliografica. Só tem dicionario". A importancia da escola como elemento social aglutinador e confirmado pela professora Tereza: " Olha, o basico da escola e a comunicaçao. Quando se quer fazer uma ocupaçao e na escola que se atinge a todos. Tambem as crianças influenciam os pais . Os pais, as vezes, vao nas manifestaçoes, porque ficam com vergonha de nao apoiar porque toda a escola esta apoiando. A escola deve ensinar o basico, para se defender na vida: droga, a sociedade la fora, pra se um dia sair pra cidade saber se defender. Para o professor e agricultor sem- terra Gilberto, "nao pode isolar vida cotidiana dos estudos. O professor tem que passar os conteudos de forma clara. A droga, por exemplo, nao e um problema isolado. Os professores admitem as dificuldades do trabalho e declaram:"Preparamos as aulas a noite, depois de carpir. Utilizamos a revista Nova Escola, que vinha gratuita. Tem outros livros que a FAE** manda. Ja pedi livros de literatura mas vem muito pouco.
reforma agrária, agricultura camponesa, êxodo rural
, Brasil, Abelardo Luz
Os assentamentos rurais de Abelardo Luz apresentam alguns avanços significativos em relaçao a maioria da situacao dos trabalhadores sem terra do Brasil. No entanto, a situacao destes agricultores esta longe de ser satisfatoria, porque o pais prescinde de uma politica agricola e agraria que de condicoes minimas de permanencia na terra a estes agricultores. O Exodo rural em massa e uma realidade e o aumento do cinturao de miseria nas grandes cidades tambem.
* Instituto Nacional de Reforma Agraria ** Fundacao de Amparo a Educacao
Relatório
TRAMONTE, Cristiana, DIALOGO CULTURA E COMUNICACAO
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