07 / 2007
A indústria da cana foi uma das primeiras atividades das Américas no período da colonização, sempre marcada pela apropriação de território e pela exploração da mão-de-obra. Esta atividade permitiu que setores que controlavam a produção e a comercialização conseguissem acumular capital e com isso contribuir para a estruturação do capitalismo na Europa.
Na maioria dos países latinoamericanos, os usineiros controlam tanto a propriedade da terra como a cadeia produtiva. Na atualidade, o setor canavieiro tem se expandido na América Latina, a partir da propaganda dos agrocombustíveis como alternativas para conter o aquecimento global. Há também o interesse estratégico do governo estadunidense e de empresas multinacionais em garantir o fornecimento de energia barata e dominar o mercado mundial do produto.
A produção de etanol deve aumentar na América Latina, a partir de um memorando assinado entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos, em março de 2007, para difundir os agrocombustíveis na região. Atualmente, Brasil e Estados Unidos são responsáveis por 70% da produção mundial de etanol.
O memorando cita especificamente a América Central e o Caribe como “regiões chaves” para a produção de agroenergia. O efeito deste anúncio foi imediato. A Guatemala iniciou recentemente a produção de etanol em alguns engenhos que tradicionalmente produziam açúcar. Existem hoje quatro destilarias de etanol no país, que conjuntamente produzem cerca de 550 mil litros do produto por dia.
Em El Salvador, o presidente Elías Antonio Saca negociou um projeto piloto para receber assistência técnica do Brasil e dos Estados Unidos para iniciar um Programa Nacional de Agrocombustíveis.
Na Costa Rica, a edição de 20 de março do diário La Nación revela que “a grande demanda mundial de etanol repercutirá em uma mudança na estrutura agropecuária nacional”. Técnicos do Ministério da Agricultura naquele país pretendem estimular a substituição de outras culturas pela cana-de-açúcar e pela mandioca, para a produção de etanol e diesel vegetal. “O país deve adotar a decisão de concentrar-se nesses produtos e evitar investimentos e pesquisa em outros”, afirmaram Alfredo Volio e Carlos Villalobos, ministro e viceministro de Agricultura.
Organizações camponesas ligadas à Coordenadora Latinoamericana de Organizações do Campo (CLOC) rechaçaram essa política, pois argumentam que representa um risco para a produção de alimentos e para a própria sobrevivência de comunidades rurais. Os incentivos aos projetos de agrocombustíveis retiram recursos e infeaestrutura da pequena agricultura, responsável pela produção da maioria dos alimentos consumidos no mercado interno.
O interesse estratégico do governo Bush em converter a América Central em uma região exportadora de etanol está relacionado à pressão imposta aos países centroamericanos para aprovar o Tratado de Livre Comércio entre Centroamérica e Estados Unidos (CAFTA), que facilitaria a entrada do produto no mercado norteamericano.
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, América Latina, Caribe
Agroenergia: Mitos e impactos na América Latina
Os textos e o manifesto “Tanques Cheios às Custas de Barrigas Vazias” foram apresentados no Seminário sobre a Expansão da Indústria da Cana na América Latina, de 26 a 28 de fevereiro de 2007, em São Paulo.
Este dossiê « Agroenergia: Mitos e impactos na América Latina » está também disponível em inglês, espanhol e francês.
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