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diálogos, propuestas, historias para uma cidadania mundial

Soja convencional: desastre ecológico

Luc Vankrunkelsven

01 / 2004

Em 2003 publiquei um artigo na ‘Tijdschrift voor Geestelijk Leven’(Revista para uma Vida Espiritual): ‘Ode à soja’. Isto em decorrência da existência, na rodoviária de Cascavel – PR, de uma estátua – não de um diligente operário ou algo semelhante – mas de uma vagem de soja. Como um símbolo fálico. Cascavel surgiu há menos de 30 anos, ‘graças’ à Revolução Verde que, no Brasil, se traduziu principalmente em soja, soja e mais soja. Hoje, no jornal ‘Gazeta do Povo’, 22/01/04: “Agrotóxicos têm 200 denúncias”. ‘A aplicação indiscriminada de agrotóxicos no Paraná está colocando em risco a vida dos animais e até dos moradores da cidade. (…) Em Cascavel, o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) registrou mais de 200 denúncias envolvendo agrotóxicos no ano passado. O avanço da agricultura chegou às portas dos moradores dos centros urbanos e trouxe com ele problemas que eram restritos à zona rural. Hoje, os moradores vizinhos às lavouras, sobretudo de soja, convivem com o cheiro forte de veneno e os efeitos nocivos que ele produz na saúde humana. (…) Conforme a lei, as lavouras devem respeitar o limite de 500 metros de habitações ou das bacias hidrográficas. Mas isso não acontece, segundo o IAP. A falta de fiscais é apontada como o principal fator para a manutenção desse quadro. (…) Os valores das multas, para quem descumprir a lei, variam de R$ 500 a R$ 10 milhões. A aplicação indevida de agrotóxicos traz conseqüências danosas ao meio ambiente, como a morte de peixes e a contaminação da flora e do solo.

A dona de casa Lídia Mendonça, de Cascavel, é vizinha a uma plantação de soja. No ano passado, ela ficou internada dois dias por causa da intoxicação sofrida pelo veneno aplicado na lavoura. Além da alergia do veneno, Lídia é obrigada a sair da sua própria casa sempre que os agricultores aplicam os herbicidas. A dona de casa Selma Gonçalves da Rosa disse que o maior incômodo é conviver com o mau cheiro do veneno agrícola.”

Cânhamo como alternativa

Será que a proposta de Wervel seria tão insensata assim, a de voltarmos a usar cânhamo, sim, a Cannabis? (A espécie tem o maior teor de proteínas depois da soja; as fibras são três vezes mais resistentes que as do algodão e, portanto, as calças jeans seriam mais duráveis; para a produção de papel, um hectare de cânhamo equivale a quatro hectares de Pinus; e … cânhamo não requer o uso de agrotóxicos!). O linho também continua interessante. Durante séculos, esta planta fibrosa – que também fornece óleo e proteínas – formou a base das indústrias têxteis de Flandres e Valônia. Na metade do século XIX, cidades prósperas entraram em declínio por causa do algodão barato que chegava das colônias nos navios a vapor. Neste início do século XXI, o que restou do linho flamengo vai para… a China. Na seqüência, esta mesma China faz dumping de seus tecidos na Europa.

O algodão – que expulsou o linho na nossa região – ocupa, atualmente, 3% das terras agrícolas do mundo e é responsável por 26% do consumo global de agrotóxicos. No momento, a soja expulsa todas as outras culturas agrícolas no Brasil. Sim, até o ‘boi’, o gado que há cinco séculos reina absoluto, está sendo derrotado pelo ouro verde. Mas pode ser que logo chegue a vez da própria soja, assim que os latifundiários perceberem que – embora ganhem R$ 300/ha com soja – o algodão esteja rendendo R$ 700/ha (graças à frustração de safra na Ásia).

Até a década de 60, o cânhamo era cultivado em Flandres, mas também nos EUA e no Brasil. Devido à máquina lobista da indústria de tecidos sintéticos, esta espécie milenar (mais de 5 mil anos, uma das primeiras culturas agrícolas) foi demonizada… devido ao problema das drogas.

Por que soja sim e cânhamo não?

Um verdadeiro exemplo do poder do lobby econômico que determina em alto grau as escolhas ao longo da história.

Palavras-chave

soja, degradação do meio ambiente, monocultura


, Brasil

dossiê

Navios que se cruzam na calada da noite: soja sobre o oceano

Notas

Esse texto foi tirado do livro « Navios que se cruzam na calada da noite : soja sobre o oceano » de Luc Vankrunkelsven. Editado pela editora Grafica Popular - CEFURIA en 2006.

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