Com um enquadramento jurídico relativamente tradicional de instituição financeira em pleno exercício, operando no quadro legal do Quebeque, a Caixa económica solidária Desjardins é uma das poucas cooperativas de aforro e crédito que utiliza o ambiente financeiro para desenvolver a economia social e solidária. O facto de se focar na acção colectiva e no sonho, não faz dela um fracasso! No seio da grande rede Desjardins, a Caixa de economia solidária é a primeira das Caixas de grupo e a 49ª em activos médios nas cerca de 550 Caixas Desjardins. No que se refere a todos os fundos emprestados pela Caixa ao longo dos anos, 97% foram repostos, o que faz dela a instituição financeira mais eficaz neste sector em todo o Quebeque.
Mas o que faz dela uma instituição financeira única é a sua inserção em rede. A Caixa de economia solidária Desjardins é uma das organizações de desenvolvimento económico levadas a cabo pela segunda central sindical do Quebeque, a Confederação dos sindicatos nacionais (CSN). Em conjunto, as três mais importantes organizações, a Caixa, o fundo dos trabalhadores Fundação e o Comité nacional de reformas Batirent, canalizam activos de 1,3 milhõesm de dólares (850 milhões de euros). Por outro lado, o facto de todos terem origem na CSN, faz com que partilhem todas uma visão de desenvolvimento sustentável e solidário baseada na participação dos trabalhadores e das comunidades.
Origens
Foi em 1971, na cidade do Quebeque, que militantes sindicais do CSN lançaram esta caixa que, para além de dar resposta à sua necessidade de uma instituição financeira, visava uma transformação social. Depois, fundiu-se com outras duas caixas, também elas originadas em sindicatos. ’E interessante saber que no Quebeque, uma caixa popular tem incidência territorial, enquanto que uma caixa económica (ou de grupo) está ligada aos assalariados de uma ou mais instituições. A sua actividade estende-se a todo o território do Quebeque, a segunda mais importante província do Canadá.
Missão e visão
De acordo com a sua missão social, um grande número de organizações e associações comunitárias tornaram-se membros ao longo dos anos. No fim de 2006, a Caixa tinha 2500 membros colectivos (empresas sem fins lucrativos, cooperativas, organismos comunitários e sindicatos), bem como 7137 membros individuais (geralmente trabalhadores dos membros colectivos). É importante sublinhar que não há restrições para se tornar detentor de uma parte social, ao contrário, por exemplo, do Reino Unido que limita apenas aos indivíduos a possibilidade de se tornarem membros. E é válido o princípio « um membro – um voto », mesmo que se trate de uma organização ou de uma empresa importante.
No relatório anual de 2006, a Caixa expressa assim a sua visão estratégica:
As quatro opções fundamentais da nossa organização são a vida conjunta, a ecologia, a solidariedade e a democracia.
Estas quatro opções constituem os pontos onde se baseia e fundamenta a nossa acção e são pontos de chegada que fundamentam o projecto de sociedade que sonhamos e para o qual queremos contribuir. E é por isso que, fundamentalmente, nos propomos a medir a riqueza através da democracia, da solidariedade, do respeito pelos seres vivos no seu ambiente e pela nossa capacidade em aceitar os outros nas suas diferenças
Eis como nós concebemos o desenvolvimento sustentável e solidário para a nossa sociedade.
Nesta visão, a acção económica é remetida para o seu lugar de serviço no plano dos objectivos humanos, ao serviço dos projectos fundamentais para nós próprios, seres humanos e para o planeta que habitamos.
O espírito empresarial da caixa
O espírito de empresa que nos anima baseia-se numa motivação profundamente humana e social. O seu principal aspecto não é concretizar negócios, mas antes resolver problemas. É um empreendimento que pretende estabelecer a justiça, que quer resolver o problema da pobreza e do desenvolvimento, aspirando por responder às necessidades humanas. Quando consideramos o estado actual do mundo, com os seus enormes desafios económicos e sociais, dizemos para nós próprios que somente um espírito empresarial deste tipo é capaz de veicular valores suficientemente altos e generosos que se traduzam em soluções adequados e sustentáveis.
O compromisso da caixa com o seu meio
Para além dos serviços prestados aos seus membros, o compromisso da Caixa com a comunidade e a sociedade traduz-se, manifestamente, pelo seu Fundo de apoio ao desenvolvimento do meio. Como todas as caixas, reserva uma verba para donativos e solicitações. Mas o que distingue fundamentalmente esta caixa das outras é a forma como aplica os rendimentos das aplicações. Na quase totalidade das outras caixas, a prática é a de retribuir aos seus membros uma comparticipação (proporcional aos negócios do membro). Ora, desde sempre, os membros renunciam, em assembleia-geral, a receberem essa comparticipação. Assim, em 2006, um montante superior a 800.000 dólares, foi consagrado pela Caixa para o desenvolvimento do meio, com base nos princípios fundamentais enunciados atrás. Assim, mais de 1,2 milhões de dólares foi consagrado pela caixa à sua missão de economia solidária no decurso do ano de 2006.
Algumas acções exemplares
A caixa tem inovado permanentemente em diversos domínios de actividade. Por exemplo, é uma caixa com um forte impacto no sector cultural. Neste aspecto, os dirigentes da caixa orgulham-se de referir que foram os primeiros a realizar um empréstimo a dois jovens que criaram o Cirque du Soleil.
A Federação das 14 cooperativas Innuit de Nunavik (norte do Quebeque) é também membro da Caixa. No quadro de lançamento de um governo autónomo, a caixa colabora actualmente no lançamento de uma instituição financeira autónoma em Nunavik.
Finalmente, a caixa envolve-se no desenvolvimento das finanças solidárias a nível internacional. Desenvolve uma parceria activa com a Banca Ética de Itália e é membro da INAISE (Associação internacional dos investidores em economia social). Em conjunto, participaram em projectos no Brasil.
Como todas as instituições, a Caixa de economia solidária Desjardins é resultado da sua própria sociedade. Nesse sentido, é única e não pode ser reproduzida da mesma maneira em qualquer parte. Mas ela pode, sem dúvida, inspirar práticas mais solidárias no domínio das finanças.
instituição financeira, economia solidária, caixa de poupança e crédito, desenvolvimento comunitário
, Canadá, Québec
Para informações: www.cecosol.coop (em francês), www.fondaction.com (em francês), www.bancaetica.com/inglese/ (em inglês)
Tradução em português: Michel Colin
Este artigo está também disponível em inglês, espanhol e francês.
Este artigo está disponível no blog: Boletim Internacional de Desenvolvimento Local Sustentável.