Criados a pleno sol, os bovinos, nos trópicos, sofrem de estresse fisiológico
08 / 2004
No Brasil, as áreas desmatadas são ocupadas – na maior parte de sua extensão - por pastagens degradas ou em via de degradação. São paisagens tristes, monótonas, com freqüência dramaticamente afetadas pela erosão. Das florestas que ali existiam, muitas vezes, não sobrou nem uma árvore! É urgente investir na recuperação das pastagens e das paisagens!
A eliminação de árvores e arbustos nas pastagens deve-se a uma postura cultural, segunda a qual o pecuarista fica convencido de que as árvores e arbustos sempre exercem forte competição sobre as forrageiras causando dessa forma, uma significativa diminuição da renda.
Pesquisas realizadas nos trópicos americanos indicam claramente que diversas boas forrageiras herbáceas (gramíneas e leguminosas) agüentam sombreamento (enquanto que não exagerado) e que algumas gramíneas forrageiras acumulam mais proteínas nas suas folhas em pastagens adequadamente sombreadas.
Quase todos os animais possuem uma zona de conforto térmico – zona de "termo-neutralidade" (ZTN). Nos trópicos, em pastagens relativamente afastadas de fontes de água, os animais - para não se tornarem estressados - precisam de abrigos fornecendo. Os riscos de estresse são maiores em pastagens localizadas em áreas de relevo acidentado. Nas pastagens, a sombra proporcionada por árvores reduz a incidência de radiação solar e diminui a temperatura do ar pela evaporação das folhas. A procura de sombra é, portanto, uma resposta óbvia ao estresse calórico.
Por outro lado, as árvores, com seus sistemas radiculares mais profundos e - no caso de grande número de leguminosas arborescentes ou arbustivas – com capacidade de fixação de nitrogênio, podem manter ou aumentar os níveis de fertilidade dos solos e melhorar sua estrutura física.
As árvores podem também contribuir para a alimentação dos animais (folhagem e/ou frutas forrageiras) e aumentar a renda da fazenda mediante, por exemplo, o aproveitamento de produtos madeireiros (lenha; madeira roliça; madeira para serrarias) ou não madeireiros (frutas, castanhas, comercialização de sementes para programas de reflorestamento).
Comparando dois grupos de animais, com e sem acesso a sombra (Adolfo M.A de Moura et allii, 2003), observou-se que os animais com acesso a sombra apresentam freqüência respiratória e temperatura corporal mais baixas, produziram aproximadamente 11% a mais de leite, a taxa de concepção foi 19% maior e a incidência de mamite 10% abaixo dos índices apresentados pelos animais do grupo sem sombra.
Para arborizar pastagens, diversas alternativas devem ser contempladas, adotando uma delas ou uma combinação de várias delas:
O plantio de árvores uniformemente distribuídas nas pastagens com fins de produção madeireira e sombreamento ;
A formação de bosquetes, nas pastagens, onde o gado pode descansar na sombra de árvores durante as horas mais quentes do dia ;
A formação de faixas arborizadas em curvas de nível recortando as pastagens ;
A substituição de moirões mortos por moirões vivos ;
O plantio de 1, 2 ou 3 linhas de árvores ou palmeiras ao longo das cercas, principalmente com espécies de valor econômico ;
A formação de quebra-vento e/ou de aceiros arborizados, principalmente com espécies de valor econômico ;
A formação de “bancos de proteína” para melhorar a dieta dos animais, utilizando forrageiras arbustivas ou arborescentes (submetidas a podas e rebaixamentos periódicos).
criação, agricultura e pecuária, ecologia florestal
, Brasil
Sistemas agroflorestais : Ecologia e produção
Nas regiões tropicais do Brasil, a implantação de sistemas silvipastoris mostra-se em ampla expansão, por sua eficiência e melhor relação custo/benefício. Nos trópicos, o gado precisa encontrar nas pastagens "abrigos de sombra" onde ficar pelo menos nas horas de calor intenso.
Livro ; Artigos e dossiês
DE MOURA, Adolfo M. A.; SANTOS, Hugo Marques dos, FREITAS Jr, Murilo B., 2003. Estratégias para minimização do estresse calórico em bovinos leiteiros. Rio de Janeiro, RJ. A Lavoura, No 106, Março 2003, pp. 22-26. website = www.sna.agr.br]
DUBOIS, J.C.L., 1998. Sistemas Agroflorestais para a Região da Mata Atlântica no Rio de Janeiro Palestra feita no âmbito do I Seminário Regional sobre a Mata Atlântica/ IEF-RJ Nova Friburgo, RJ., 21-22 de setembro de 1998- pp 10
FRANCO A. A. 1988. Uso de Gliricidia sepium como moirão vivo. Rio de Janeiro (Seropédica), RJ. EMBRAPA Unidade de Apoio ao Programa Nacional de Pesquisa em Biologia do Solo. Comunicado Técnico No 03, 5 pag.
REBRAF = Rede Brasileira Agroflorestal ((Institut Réseau Brésilien Agroforestier)) - Cx. P. 6501, cep. 20072-970 Rio de Janeiro, Brésil - Brasil - www.rebraf.org.br - info (@) rebraf.org.br