Sou professora de Português e Literatura. Atuo no ensino público, no supletivo do Estado de quinta à oitava séries e também como alfabetizadora de adultos na Escola Senador Correia. Trabalho diretamente com os alunos.
O magistério pode ser considerado um campo "feminino" de trabalho. Na escola estadual onde trabalho, quatro professores são homens num grupo de quinze. Na Escola Senador Correa Somos um grupo de quatro alfabetizadoras e mais uma vez a predominância é feminina no corpo docente da escola.
Acredito que as profissões mais desprestigiadas e mal remuneradas geralmente ficam com as mulheres. Isso porque apesar dos avanços ainda predomina uma lógica masculina onde o papel da mulher está ligado à administração e aos cuidados da casa e à criação dos filhos. Outro fator que contribui para o desprestígio no campo profissional da mulher é a falta de estrutura (creches, escola, participação do homem nos afazeres domésticos e na criação dos filhos, etc)que nos permita conciliar esses diferentes papéis: mulher trabalhadora fora e dentro de casa.
As mulheres com as quais trabalho são mais pobres e geralmente ocupam funções mais desqualificadas e desvalorizadas. Conciliando essas atividades com os seus afazeres em casa. São faixineiras, empregadas domésticas, diaristas, babás, etc. São trabalhos considerados "femininos" e outras mulheres desempenham tarefas que nós, mulheres mais "instruídas" não queremos ou não podemos fazer.
Quanto à desvalorização da profissão de professor ela reflete o pouco caso que ainda é dado em nosso país à educação e à saúde; não são serviços priorizados em nossa sociedade. Coincidentemente ou não, são nesses serviços essenciais que se concentra o maior número de mulheres.
Quanto à inserção das mulheres no mundo do trabalho, coexistem duas realidades. De um lado, o trabalho da mulher é ainda uma ajuda, complementando o orçamento familiar. Por outro, cada vez aumenta o número de mulheres chefes de família, responsáveis pelo seu sustento, bem como pela criação dos filhos (viúvas, separadas, mães solteiras, etc).
Na educação o papel do professor se mistura com o do educador, que é geralmente atribuído à mãe. O educador está muito associado à mulher e por issso que as vezes acho que "a mulher é um grande útero".
Para mim essa frase reflete o lado maternal, compreensivo, educador, amoroso do papel da mulher no seio da família e da própria sociedade. O homem é o provedor, portanto, trabalha, e a mulher educa, portanto cria os filhos.
Não sei se rompi completamente com esses modelos. Acho que tento, mas sobretudo, para minha geração, eles ainda são muito fortes. Tenho conflitos em relação aos diferentes papéis que assumo e tive sentimentos de culpa quando precisava deixar as crianças para trabalhar. Por isso optei em trabalhar à noite para poder ficar com as crianças de dia. De um lado a premência econômica me obrigou e de outro a questão da realização pessoal e profissional. Não me imagino só cuidando de casa. Os trabalhos domésticos não nos permitem criar, pensar, crescer, como pessoas.
Me satisfaz e me realiza o aprendizado contínuo que a educação popular me proporciona. O fato de poder contribuir junto aos alunos de interferir nesse processo, tentando estabelecer outras relações que não as de dominação existentes, na esperança de que esse modelo que tentamos construir na sala de aula frutifique para fora dela.
Tenho também muita vontade de me aperfeiçoar na área de educação, talvez um curso de psicologia para poder entender melhor os processos de sobrevivência existencial das pessoas com as quais eu trabalho (os alunos).
Eles me surpreendem: ao mesmo tempo em que já passaram e ainda passam por situações difíceis, a capacidade de resistência que demonstram para mim é inexplicável. Gostaria de pesquisar de onde vem essa força de enfrentar tantos problemas e de prosseguir. O que leva uma pessoa que tem tudo contra, a resistir, a continuar, a sonhar?
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, Brésil, Rio de Janeiro
Florine é professora da rede pública estadual, também atua como alfabetizadora de adultos no Curso da Escola Senador Correa e integra o Coletivo de Educadores do Rio de Janeiroro, além de fazer parte da equipe do boletim de interligação desse coletivo.
Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.
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