Este texto procura costurar e retomar leitura, conversas, encontros, reflexões, a partir de minha prática na área da educação, principalmente no trabalho de formação de educadores.
A preocupação é iniciar um movimento de crítica privilegiando o processo de nossa própria formação destacando o compromisso político-social, mas especialmente a prática educativa desenvolvida, o exercício de educador nesse processo.
Porém, para isso "é preciso reconhecer as próprias potencialidades e saberes acumulados na educação popular, especialmente no campo das subjetividades da vida cotidiana, e das metodologias de trabalho. Vilela (1).
Na acumulação de experiências, que questões e que aspectos podem ser destacados?
Algumas inquietações me chamam atenção em especial:
Como recupera a cultura no cotidiano? No trabalho, na escola, nas relações? A cultura é produção da vida.
Como pensar a formação do educador, sem passar pela questão da identidade dos sujeitos enquanto pessoas que têm uma história, que têm suas raízes culturais? Portanto, é necessário destrinchar o que a gente entende por educação enquanto cultura e como transformação cultural. Educação enquanto cultura é entendida aqui como o sentir, o pensar e o agir das pessoas; o criar, o sonhar, o transformar. A educação entendida como a apuração desse sentir, desse pensar, desse agir. É levar tudo isso em conta no processo educativo. Olhar isso no movimento, na história do cotidiano dos grupos, das pessoas (nós, as crianças, os jovens, o adultos). Não dá, por conseguinte, para enxergar essa cultura de um ponto de vista estático, apenas no aqui, num hoje sem fronteiras.
Se como afirma Paulo Freire, educar é trabalhar com a cultura, em cima da cultura, então, o ato de educar tem sentido enquanto pensado, sentido e vivido como trabalho cultural. É preciso não perder de vista que também é na cultura que se explicam e se inspiram as semelhanças as diferenças, as origens, as mudanças, as heranças que tornam cada momento, um passado e que nunca é o mesmo e que traz o amanhã nesse hoje. Será que nós, educadores, compreendemos, de fato, que a educação só poderá ser transformadora se nossa prática se inspirar na cultura? Uma prática de descoberta e de aperfeiçoamento; que trabalha com os sentimentos, as emoções, o afeto, o pensamento, a reflexão, o agir, o conhecimento. Como descobrir, como garimpar o jeito que é próprio de um povo, das pessoas, do professor, do aluno? Então eu chamo nossa atenção para essa coisa do fazer educação, que não é um privilégio ou propriedade, por exemplo, do professor ou do profissional de educação, mas que é também do aluno, do educando, não numa relação, mas em relações que determinam esse fazer da prática pedagógica, e que não se repassa simplesmente.
Entretanto, nessas relações existem papéis diferenciados nesse processo de formação, precisamos ter bem claro que é uma relação entre sujeitos sociais, o eu, o tu e nós. Como transar isso aí? É olhar o que parece velho, ou o que está sempre presente, mas com um novo olhar, sob uma perspectiva de cosntrução do novo. Com uma visão de garimpeiro, ou seja, buscar nossa cultura e a dos grupos com quem trabalhamos. É a história do pé na ilha, nas raízes, mas extrapolando constantemente o qui, sem perder de vista um projeto pedagógico maior.
Processa-se assim uma relação de conhecimento, de sentimentos: é possível reconhecer-se na relação de saberes e de poderes? Avaliemos, façamos uma leitura, leitura essa que pode ser ou a partir de um modelo ou um ponto de vista que pode ser deformante, incompetente, ou de uma visão construtiva e transformadora.
Refletindo um pouco sobre o caminho, o fazer da escola, o exercício de seu processo educativo. Perguntamos, a escolarização, o ensino, o aprender, têm envolvido a participação na produção? A reflexão, a discussão, o aprofundar o que sabemos e daí avançar mais, permitindo a criação e descoberta do novo, do diferente. Dar importância, considerando, explorando as diversas formas de linguagens expressivas, ampliando o campo da sensibilidade, estar de antenas ligadas.
O papel do educador, portanto, é estimular, gerar um processo de descobertas, criar condições e situações de aprendizagem e desafios, de forma que provoque no aluno o processo de apropriação e acumulação do conhecimento.
Na verdade, quantos educadores, não estariam experimentando, na prática, num processo de autoformação e formação, um modelo de educação de uma "cultura" da reprodução, em nome de um discurso transformador?
Diante dessas considerações e reflexões, não podemos ignorar que tudo isso passa pela questão da identidade, seja ela individual ou profissional, porque sem ela não pode existir homem, nem tampouco cidadania. O que isto significa para nós educadores?
éducation populaire, éducation, identité culturelle
, Brésil, Pernambuco
Yaponira é Educadora ligada à secretaria municipal de educação do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, e integrante do Coletivo de Educadores de Jovens e Adultos, naquele estado.
Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.
Texte original
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