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dialogues, propositions, histoires pour une citoyenneté mondiale

Oficina de Criatividade

(Atelier de créativité)

Mônica Luiza ALMEIDA

12 / 1995

A atitude criativa é por natureza provocante. Exige do Educador e dos Educandos um processo de agitação mental, que motive a busca da criatividade que está em cada pessoa. Agitação que deixa o indivíduo antenado, com a sensibilidade aguçada para todas as coisas que acontecem à sua volta e curiso para descobrir o que se esconde nas aparências dos fatos, dos objetos, das pessoas.

Desconhecidas e em grande parte com uma existência paralela ao mundo das instituições, essas novas modalidades de ação coletiva propõem desafios. É muito tentador considerar essas ações apenas como expressão da criminalidade, da delinqüência ou como resultado direto da miséria e da crise econômica. Nega-se, desse modo, a possibilidade de compreendê-las em si mesmas como processos dotados de sentido, que exprimem alguma autonomia dos seus atores e suas tentativas de construção de identidades coletivas, na maioria das vezes em torno de atividades expressivas (música, dança, teatro, grafite). Tais ações coletivas têm gerado verdadeiras redes de solidariedade que estabelecem seus próprios canais, com potencialidade ainda latentes, que apontam para um novo mercado que pode emergir associado a projetos educacionais e comunitários, fortalecendo e recriando culturas locais.

As oficinas de arte-criatividade, através da colagem, da mistura do experimentar, por exemplo, o vazio e o tudo ao mesmo tempo, permitem-nos inventar, supreender, provocar a ousadia, despertar a dimensão performática de cada educador participante. Os participantes percorrem do relaxamento à agitação, ou será que para muitas pessoas a ansiedade, por exemplo, não seria um insumo básico da criação?

Os objetivos da Oficina de Criatividade: provocar/estimular a criatividade dos participantes; abordar herança cultural individual e coletiva no processo criativo; abordar originalidade e multiplicidade, o potencial criativo; refletir sobre o criar como ato intuitivo; mostrar a experiência pessoal como elemento revelador e o cotidiano como fonte de inspiração.

Nas oficinas simultâneas de desenho, os alunos se dividiram em três grupos, e receberam três propostas diferentes:no primeiro grupo os participantes, em duplas e sem se comunicarem verbalmente fizeram o desenho, a duas mãos, de uma casa, uma árvore e um cachorro, autografando-os conjuntamente.

O segundo grupo inteiro recebeu a tarefa de desenhar uma cadeira, que foi colocada no centro do grupo três e desenvolveu a seguinte vivência: cada um pensava em algo para desenhar, iniciava o desenho e sem falar para ninguém, passava adiante sua folha de papel, todos os desenhos circulavam na roda, até voltar ao autor original da proposta.

Ao final dos exercícios, cada grupo conversou sobre sua vivência.

Após um brevíssimo exercício de liberação de voz foi distribuído o texto-colagem "oficina de criatividade"que deveria ser um ponto de partida para a leitura... Uma leitura diferente, onde cada qual escolhia um trecho e atuava dentro do grupo com o texto. Timidamente e individualmente as performances foram surgindo, depois se tornaram coletivas... ficou até engraçado, pois qualquer movimento dentro da sala virava performance. Um momento muito rico vivenciado no grande grupo, que favoreceu a perda ou o enfrentamento dos medos, e o soltar-se.

A Oficina de Poesia, também batizada de "Oficina Sonrisal", foi iniciada com um relax geral dos participantes, ao som de letras do poeta e compositor Arnaldo Antunes. Em seguida, ainda deitamos no chão, os participantes "viajaram" num fato de suas vidas...Uma lembrança boa que tenha marcado a vida de cada um.

Despertar e escrever um poema foi o passo seguinte. Daí por diante, o grupão tomou conta do copo de sonrisal colocado ao centro do cenário...Todo mundo atuou com seu texto/poema dentro/diante do grande grupo. Um momento muito interessante, novas pessoas se soltavam. Perdiam o medo do ridículo...

"Ser poético não equivale a saber arranjar palavras, organizar versos, mas principalmente saber brotar e jardinar fenômenos no mundo da vida"(Fernando Paixão).

Mais uma vez todos os participantes juntos e agora mais soltos, davam continuidade à conversa que nos ajudou a identificar elementos presentes no processo de criação: "A poesia vai muito além das formas e das palavras".

"Poesia não é nada certo... Se você está preso com alguma coisa, a poesia não brota, não sai...Se você é muito religioso e tem medo do diablo nunca vai ser poeta. Isso ocorre em relação a qualquer tema."

"A poesia não é só. É o que o poeta imprimiu/traduziu nela, aquilo que vou ler nela. Como é muito individual, a poesia não tem forma".

"Em poesia, a técnica é também importante, não essencial. Ela facilita o processo de criação. Você pode ter uma idéia maravilhosa, mas por não ter conhecimento técnico, não consegue cristalizar a idéia."

"Como em qualquer arte, quando a gente cria a surpresa vai nascendo, aparecendo. Isso é muito gostoso. A poesia mexe com o sentimento da gente."

"Quando você lê poesia consegue descobrir o estado de espírito da pessoa no momento em que ela fez a poesia."

"Todo ser humano é capaz de criar, de fazer poesia."

A poesia é mais do que um símbolo, é um sacramento como diz Rubem Alves. Sacramento, na Igreja é sinal de compromisso, fazer poesia é comprometer-se. Tornar uma realidade ausente, presente.

"Não li nada sobre soneto. Aprendi soneto fazendo... Depois conheci o realismo socialista e passei a odiar a poesia que não fosse concreta e denunciadora...Hoje descobri que a poesia está em tudo, depende do ponto de vista no qual você se coloca."

Esta foi uma experiência na qual participei durante o ano inteiro e foi realizada em quatro módulos.

Foi uma experiência maravilhosa, provocativa que me fez pensar e mudar a minha forma de ser no processo de Educação.

Mots-clés

éducation populaire


, Brésil, Pernambuco

Notes

Através do insentivo à produção e leitura de fichas de capitalização de experiências pedagógicas, a rede BAM pretende favorecer a um processo de formação continuada junto a coletivos de educadores de jovens e adultos (hoje, existentes nos estados do Rio de Janeiro e Pernambuco). Está apoiado numa metodologia que valoriza a autoria e promove a interação entre educadores de diferentes contextos.

Source

Texte original

SAPÉ (Serviços de Apoio à Pesquisa em Educaçào) - Rua Evaristo da Veiga, 16 SL 1601, CEP 20031-040 Rio de Janeiro/RJ, BRESIL - Tel 19 55 21 220 45 80 - Fax 55 21 220 16 16 - Brésil - sape (@) alternex.com.br

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