Gentrification (1) na Chinatown de Manhatan
Chinatown, em Manhattan, é a residência de mais de 84.000 pessoas e tem sido o centro cultural da comunidade de imigrantes chineses em Nova Iorque por gerações. Imigrantes chineses de baixa renda tem residido e trabalhado nessa área que está entre Lower East Side e o Distrito financeiro, estendendose ao longo da margem do East River. Considerando sua localização, essa área também representa um excelente bem imobiliário, atraindo jovens profissionais e investidores ávidos pela gentrification do solo, o que coincidentemente removeria as comunidades chinesas de baixa renda e seus negócios. Existe uma crescente realidade de gentrification acontecendo em toda Nova Iorque, resultando no que David Harvey apontou como uma acumulação pela desapropriação. O que significa a acumulação de terrenos de alto valor de mercado pela remoção de habitantes de baixa renda de suas casas e comunidades nas quais gastaram anos para construir. Atualmente, os habitantes de Chinatown estão preocupados com os planos da cidade para renovar duas milhas de extensão ao longo da margem do East River, com início de obras previsto para dezembro de 2009. Estes planos, enquanto não concretizam fisicamente a remoção dos habitantes de Chinatown, tem a intenção de preencher os espaços renovados com lojas caras, restaurantes e cafés orientados a vinda de pessoas de alta renda e turistas, inacessíveis aos atuais habitantes de baixa renda. O medo dessas pessoas é que isso possa aumentar a pressão sobre seu acesso à moradia pela futura gentrification e remoção de suas comunidades. Os planos também representam um distanciamento do direito coletivo à cidade para aqueles moradores de baixa renda para então abrir caminho para atividades econômicas, lucro e interesses de alguns poucos privilegiados.
O direito à cidade
O direito à cidade é um direito coletivo para todos os que nela vivem, acessam e usam e isso envolve não somente o direito a usar o que já existe no espaço urbano, mas também o direito de criar e definir o que deveria existir a fim de conhecer as necessidades humanas para viver uma vida decente no ambiente urbano (Harvey, 2003). Em síntese, isso inclui o direito a usar a cidade e participar da sua criação ou recriação. A realização do direito à cidade tem sido executada através da colaboração entre grupos da sociedade civil e organizações, governos e agências internacionais. O papel dos grupos da sociedade civil e organizações é particularmente crucial para compreender o direito coletivo à cidade, como suas experiências informam sobre as estruturas adequadas ou inadequadas nas quais vivem. Ainda mais importante é que os diversos atores da sociedade civil estejam presentes no debate sobre o direito à cidade, já que nem todos tem a mesma experiência em um mesmo entorno.
Organização Comunitária
A comunidade chinesa que está ao longo da orla de Manhattan está se organizando. Estão lutando contra os planos urbanos de renovação do seu entorno a fim de permanecer onde estão e não serem retirados pelos interesses lucrativos econômicos dos capitalistas ricos. O Comitê Contra Violência Antiasiática (CAAAV – também conhecido como Organização das Comunidades Asiáticas CAAAV) tem sido um jogador ativo nessa luta, organizando comunidades asiáticas pobres e de baixos salários em Nova Iorque desde 1986. O CAAAV trabalha através de coalizões para construir uma estratégia única para um movimento multirracial e multidisciplinar pela mudança social e guiado pelos membros das comunidades de imigrantes asiáticos de baixa renda na cidade de Nova Iorque. Uma das coalizões a que estão afiliados é a Aliança pelo Direito à cidade, a qual mobiliza as bases de organizações comunitárias contra a gentrification que atravessa todos os Estados Unidos em casos similares à experiência que está acontecendo na Chinatown de Manhattan.
A Coalizão OUR (2) Orla Defende o Direito à Cidade
Uma das maiores campanhas do CAAAV atualmente é a luta contra a gentrification causada pelos planos da Corporação de Desenvolvimento Econômico da Cidade (EDC) para renovar a orla do East River, ao longo da qual está situada a Chinatown. Os planos de renovação incluem a construção de passarelas, cafés de alto nível e outros espaços comerciais aptos a fornecer bens e serviços mais orientados para pessoas de classes altas e turistas do que para os habitantes locais de baixa renda.
CAAAV respondeu através da reunião de forças com grupos comunitários para coletivamente criar OUR, a qual inclui outros nove grupos de base comunitária, multirracial e multidisciplinar que serão todos afetados pelos planos de renovação da orla do East River. O objetivo da campanha é, sobretudo, garantir que a renovação irá de encontro às necessidades das habitantes locais de baixa renda e para limitar o favorecimento que esses planos possam causar para o processo de gentrification em andamento no entorno.
Como os planos de renovação podem começar potencialmente no final de 2009, a Coalizão OUR Orla tomou ações urgentes para participar do processo de planejamento e então poder reivindicar sobre a criação do seu entorno. Esperase que o plano dos cidadãos seja liberado no verão de 2009, depois de reunir as preocupações e expectativas dos habitantes para os planos de renovação da orla através de enquetes e de uma série de oficinas. Para os planos de renovação, os participantes das enquetes e oficinas estão pedindo o uso livre da orla, incluindo espaços verdes abertos, instalações de recreação tais como quadras de basquetebol e handebol, atividades educativas para jovens e serviços sociais tais como traduções e serviços legais. Eles também priorizam pequenos vendedores e negócios de baixo custo tais como carrinhos de comida, feiras de frutas e verduras os quais são mais acessíveis à sua baixa renda.
A Coalizão OUR Orla está fazendo exatamente o que Harvey aponta como exercício de seu direito à cidade. Harvey vê a resposta às demandas feitas pelas comunidades, como as de Chinatown de Manhattan, como uma demanda unificada para aumentar o controle democrático sobre a especulação do solo que usualmente confiscam os investidores capitalistas como forma de obter lucro. Em outras palavras, este exemplo representa um chamado para aumentar o controle sobre o fazer e usar a cidade e suas estruturas. Um grande problema para compreender o direito coletivo à cidade é o desafio imposto pelos direitos individuais – como se sustenta no capitalismo – de certos grupos de privilegiados da sociedade que lucram onde possa o lucro ser encontrado. Isso é um conflito de direitos – individuais versus coletivo – onde as tensões crescem entre privilegiados ávidos por antecipar novos fins de lucro e os menos privilegiados que esperam assegurar o que é seu e permanecer no lugar onde vivem, simplesmente porque chegaram primeiro. Essencialmente, os direitos individuais podem comprometer e anular direitos coletivos. Devese considerar absolutamente inaceitável remover uma comunidade inteira pelo benefício de alguns que são capazes de fazê-lo somente porque são mais ricos. Quais são os direitos culturais de uma comunidade de ficar onde investiram por décadas no lugar que chamam de casa, onde encontram conforto, intimidade, comunidade, serviços e subsistência? Deve-se gritar que, mesmo que suas condições de moradia não sejam adequadas, estão lutando por seu direito de permanecer onde vivem porque estão conectados com aquela comunidade. Encontrar uma casa não é questão de ter quatro paredes e um telhado sobre a cabeça. Trata-se de plantar sementes e vê-las crescer, o que requer mais do que trabalho, tempo e cuidado do que a construção de um edifício. A Campanha OUR Orla não é uma campanha contra a implementação da renovação da orla do East River. Eles vangloriam a perspectiva de melhorar seu bairro, mas seu foco é assegurar que essas melhorias acrescentem e não impeçam sua rica cultura e vida comunitária que eles levaram anos para construir. Este é o desafio que enfrentam: fazer com que investidores e empresários entendam que, ao assegurar seus direitos, sob o capitalismo, para lucrar no mercado especulativo, estão enterrando sob a superfície uma comunidade de longa data, estão destruindo o direito dessa comunidade de permanecer como são e onde estão.
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, Etats-Unis, New York
Referências
Harvey, David. “Debates and Developments: The Right to the City” in International
Journal of Urban and Regional Research, vol. 27, no. 4, pp. 939-941. December 2003.
Harvey, David. “The Right to the City” in New Left Review. Issue 53, pp. 23-40. Sept-Oct 2008.
CAAAV Organizing Asian Communities. Chinatown Tenants Union, Outreach Brochure. 2008
CAAAV Organizing Asian Communities. Momentum Builds for a Community Waterfront in Chinatown and the Lower East Side! 6 May 2009.
CAAAV Organizing Asian Communities. OUR Waterfront Campaign. 2009.
CAAAV Organizing Asian Communities. Website: www.caaav.org/about
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