Leia a primeira parte do artigo
Região Sudeste
Espírito Santo
Produção de café
Na região norte do estado do Espírito Santo, mais precisamente nos municípios de São Mateus e Jaguaré, a 220 quilômetros da capital Vitória, estão 11 assentamentos com 398 famílias e se constitui num importante pólo de produção de café conilon. Nessa região está a Cooperativa de Produção Agropecuária Vale da Vitória – COOPRAVA, um importante projeto de organização e de beneficiamento de café. Mais de 100 famílias são engajadas nessa cooperativa. Ela possui uma estrutura de transporte, secagem, beneficiamento e armazenagem da produção. Do total de famílias assentadas, cerca de duas mil são produtoras de café e tem nessa cultura sua principal fonte de renda. A Área plantada é de aproximadamente 10 milhões de pés em produção. E uma produção média de 100 mil sacas por ano.
O cultivo do café conilon se constitui na principal atividade econômica de 80% das famílias assentadas no ES. O cultivo do café é a base econômica de todos os assentamentos, de norte a sul do Espírito Santo. E apesar da oscilação dos preços no mercado, ele continua sendo o produto agrícola que garante um retorno econômico satisfatório às famílias produtoras. Sobretudo para aquelas que conseguem incorporar uma quantidade mínima de tecnologias nos tratos culturais das lavouras.
Os assentamentos de Reforma Agrária do MST atualmente produzem mais de 6.000 toneladas de grãos por ano. São cafés do tipo conilon e arábica. Há por parte dos agricultores assentados um pleno domínio das técnicas de produção.
Já existe no município de São Mateus, região norte do Espírito Santo, uma Cooperativa de agricultores assentados ligada ao MST que tem no seu entorno mais de 400 famílias e produzem cerca de 20 mil sacas de café por ano. Elas já contam com uma importante experiência de beneficiamento do produto.
Esta cooperativa tem uma estrutura de secagem, beneficiamento, armazenamento e transporte de café. E esse processo constitui-se no primeiro passo do projeto aqui proposto. Ademais, isso contribuirá decisivamente para a redução de custos do produto final – café torrado e moído. O MST tem área de terra própria, destinada a implantação de uma unidade de torrefação e moagem de café próximo à referida cooperativa.
REGIAO SUL
Santa Catarina
Criada em 1996 por 120 assentados da Reforma Agrária, a Cooperoeste (Cooperativa Regional de Comercialização do Extremo Oeste Ltda) é hoje uma das grandes produtoras de leite da região sul do país. Sediada em São Miguel do Oeste (SC), ela produz e comercializa cerca de 330 mil litros de leite diariamente.
Os assentados trabalham com 330 mil litros de leite por dia, sendo que a maior parte desse leite é longa-vida. Cerca de 200 mil litros são da marca Terra Viva, em que trabalham Sem Terra ligados ao MST, e 130 mil litros são prestação de serviços para outras duas empresas. Atendemos hoje 2.171 agricultores integrados na Cooperoeste e também compramos leite de várias outras empresas. No total, o leite vem de seis mil famílias para ser industrializado na cooperativa. Temos também outros produtos, como bebida láctea e iogurte.
A venda é centralizada no estado do Paraná, com 54% da produção. Santa Catarina tem em torno de 22% e o restante é distribuído em Mato Grosso, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Paraná
Os trabalhadores acampados e assentados do estado comemoraram, em julho de 2008, 15 anos de fundação de uma cooperativa modelo em produção e trabalho coletivo na área de Reforma Agrária, a Copavi (Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória Ltda), localizada no assentamento Santa Maria, município de Paranacity, na região noroeste do Paraná.
A Copavi se tornou referência para os assentamentos do MST, pela experiência de produção coletiva, sem a propriedade privada e individualizada da terra. Para o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), a cooperativa é considera um dos 10 assentamentos mais bem sucedidos do Paraná.
No modelo de sociedade e agricultura sustentado pelas 23 famílias que integram a cooperativa, os aspectos que se destacam são a garantia de vida digna para as pessoas, a produção de alimentos e o respeito ao meio ambiente.
Jacques Pellenz, presidente da Copavi diz se orgulhar em fazer parte de uma sociedade coletiva que deu certo e conta que a experiência do assentamento mostra à sociedade que a Reforma Agrária é viável e proporciona uma grande diversidade na forma de produzir e se relacionar. “A comunidade local, que a princípio ficou bastante apreensiva com a presença dos Sem Terra no município, hoje demonstra um grande apoio e apreço ao perceber que realmente a Reforma Agrária dá certo, e é uma necessidade social para o desenvolvimento econômico da maior parte da população brasileira”, declara.
A experiência de trabalhar e viver em coletivo é uma das formas mais complexas de cooperação que vem sendo praticada no MST, fazendo com que as pessoas sejam mais solidárias. “Essa forma organizativa exige mais das pessoas, nas relações pessoais. Como fomos criados na vivência individual, no coletivo é preciso fazer a mudança ‘do meu para o nosso’. Mas, este sistema ajuda todos a se educarem juntos, além de elevar o nível de consciência do ser humano, dar mais autonomia a mulher, aos jovens e crianças”, ressalta Jacques.
A Copavi foi fundada em 10 de julho de 1993, e conta com uma área de 106 alqueires, que fica à cerca de 1 km da cidade, onde o trabalho é feito de forma coletiva. Tudo funciona através da divisão de tarefas e está organizado por setores de produção. As decisões mais importantes são tomadas com a participação de todos, em Assembléia Geral.
As famílias moram próximas uma das outras, em forma de agrovilas. As casas, que recentemente passaram por reformas têm energia elétrica e água encanada. Além do trabalho produtivo, as refeições de café da manhã e almoço também ocorrem de forma coletiva, de segunda à sexta-feira, em um refeitório comunitário. À noite e nos finais de semana, as alimentações são feitas na casa de cada família.
Produção
Os assentados vêm trabalhando para converter toda a produção em sistemas agrocológicos. A produção de gado de leite é a última que se encontra em fase de transição para a agroecologia, os outros setores produtivos já funcionam neste modelo. A produção está organizada em grandes linhas como: leite e derivados; frangos, suínos e derivados; cana-de-açúcar e derivados; e produção de hortaliças agroecológicas.
A opção pela forma de produção que respeita o meio ambiente e melhora a qualidade de vida dos assentados também é uma forma de resistência e combate ao modelo do agronegócio, baseado no monocultivo de grandes extensões de terras, na destruição do meio ambiente e na superexploração dos trabalhadores rurais. “A Copavi sempre procurou desenvolver suas atividades da forma mais natural e menos nociva ao meio ambiente, a natureza e à saúde humana, por isso tem orgulho de ter a atividade de hortaliças totalmente agroecológica, sem utilizar nenhum tipo de produto químico ou tóxico”, explica Jacques.
Na Cooperativa são produzidos mensalmente 24 mil litros de leite pasteurizado e comercializado em saquinhos. Uma parte é transformada em doce de leite, queijos e iogurte. Para a industrialização foi construído um Mini-Laticínio, com capacidade diária de 3.000 litros de leite. Também são produzidos mensalmente cerca de 2.000 kg de melado, 25 mil kg de açúcar mascavo, além de uma produção anual de 13 mil litros de cachaça artesanal da marca “Libertação” e “Camponeses”. Em uma área de aproximadamente 1,5 alqueires são cultivados, a cada mês, cerca de 8,6 mil kg de diversas hortaliças e legumes agroecológicos.
A receita bruta da Copavi gira em torno de R$ 715 mil ao ano. A venda dos produtos é feita diretamente ao consumidor e em feiras, nos municípios mais próximos. Alguns alimentos são comercializados em redes de supermercados da região. A cachaça artesanal, além de ser vendida em vários locais do Brasil, é exportada para a França e Espanha, representando 5% da receita da cooperativa.
No entanto, a produção não é voltada somente para o abastecimento do mercado local, regional e internacional. Para o auto-consumo, são produzidos por mês cerca de 200 quilos de frango, 350 quilos de suínos e, por ano, 30 toneladas de mandioca comestível.
Histórico
A ocupação da antiga fazenda Santa Maria - que deu nome ao assentamento - aconteceu no dia 19 de janeiro de 1993, por 16 famílias ligadas ao MST. O local, antes usado para o plantio de cana-de-açúcar, em maio de 1994 foi desapropriado pelo Incra e transformado no assentamento onde foi criada a Copavi. Francisco Strozake, de 67 anos, conhecido como “Chicão” é um dos fundadores da cooperativa e relata que desde o acampamento um grupo de famílias se organizou e decidiu trabalhar coletivamente. “Desde o princípio o objetivo das famílias que participaram da conquista deste assentamento foi desenvolver as atividades e a organização interna de forma coletiva e comunitária”, relembra.
Rio Grande do Sul
Cooperativa de Produção Agropecuária Cascata - COOPTAR
A Cooperativa de Produção Agropecuária Cascata - COOPTAR fundada em 08/02/1990, situa-se no assentamento Fazenda Annoni, no município de Pontão, Estado do Rio Grande do Sul. A área total de terra da cooperativa é de 205 hectares, sendo 12% de mata nativa, 8 ha de banhados, 33 ha de pastagens (dos quais 8 ha de pastagem cultivada) e o restante utilizado com lavoura mecanizada.
A fazenda Annoni, de 9200 ha localizada no então município de Sarandi-RS, foi ocupada por 2000 famílias de trabalhadores rurais sem terra em 29.10.1985. Após a conquista e legalização da área, a maioria das famílias optou por trabalhar de forma individual.
A partir de 1994, com a terra liberada e com o grupo estabilizado, a Cooperativa de Produção Agropecuária - CPA começa a preocupar-se em gestar um novo futuro. Iniciam-se as experiências de abate artesanal de suínos, que mais tarde desembocaria na construção de um frigorífico de suínos e bovinos.
A renda média auferida pelos associados da COOPTAR é a maior entre as CPAs estudadas. A cooperativa estabeleceu o valor mínimo de R$ 0,50 a ser pago por hora trabalhada. Isso foi possível estabelecer a partir do momento em que a renda auferida com o leite alcançasse um determinado patamar (a CPA fatura R$ 2.000,00 por mês com a venda desse produto e trabalha-se em torno de 4.000 horas mensais). Com isso torna-se possível assegurar uma certa regularidade na obtenção dessa renda e as famílias podem se programar em termos de gastos monetários no período. A renda monetária das famílias chega a R$ 270,00 mensais. O período de descanso anual (equivalente às férias) é de 15 dias remunerados pelo coletivo.
A rigor, na Cooptar não existem setores produtivos formalmente organizados. As atividades produtivas organizam-se nas seguintes linhas: horta, frigorífico, lavoura, gado leiteiro e suínos. Algumas dessas linhas são acompanhadas por uma só pessoa.
A condição das terras pertencentes ao coletivo é excelente, seja em termos de fertilidade quanto de declividade e outros atributos físico-químicos, possibilitando a mecanização (e portanto o ganho de eficiência e produtividade) e a obtenção de uma produtividade razoável da lavoura (34 sc soja/ha - aproximadamente a média do estado do RS). A CPA dispõe de estrutura de secagem e armazenagem para 5 mil sacas e uma fábrica de rações com capacidade para 500 kg/hora.
A capacidade atual de abate é de 400 suínos e 140 bovinos por mês, utilizando-se de 8-12 pessoas para operar. A evolução na produtividade do trabalho empregado no frigorífico foi bastante significativa. Até 1997, dezessete pessoas trabalhavam no frigorífico para abater um volume menor do que o atualmente realizado. O ganho se dá desde o número de animais que se abate e passa pelo desempenho das atividades de limpeza, corte e preparação da carne, até a elaboração e amarração do salame.
Fazenda Anonni
Um bom exemplo dos resultados da Reforma Agrária trata-se da antiga Fazenda Anonni, área de 9 mil hectares que foi desapropriada em 1986 no Rio Grande do Sul. Foram assentadas 420 famílias no assentamento da Anonni, que produz, por ano, cerca de 20 mil sacas de trigo, 6 milhões de litros de leite, 150 mil sacas de soja, 35 mil sacas de milho, 45 toneladas de frutas, 800 cabeças de gado, 5 mil cabeças de suínos e 10 mil quilos de hortaliças.
Por isso, uma delegação de representantes de 23 prefeitos da região norte do estado defendem a desapropriação de fazenda em Coqueiros do Sul, que ocupa 30% da área do município e gera empregos para apenas 15 funcionários temporários, além de ser um símbolo do atraso, da exclusão. Caso fosse transformada em um assentamento para 450 famílias, poderia gerar no mínimo 950 empregos diretos e desenvolver a produção e movimentar a economia da região.
production, coopérative
, Brésil
Mouvement des travailleurs Sans-Terre
Neste texto, sistematizado pelo setor de produção do MST, temos uma análise das formas de organização implementadas pelo movimento na construção dos assentamentos, assim como dos princípios e orientações para a produção e organização de agroindústrias e cooperativas.
Alguns exemplos concretos de cooperativas e associações, implementados pelo MST em várias regiões do país, nos permitem ter uma ideia mais precisa do desenvolvimento destas ações e seu alcance.