Já falamos anteriormente sobre o desrespeito aos direitos humanos no mundinho da soja. Agora foi constatado que a mortalidade infantil entre os povos indígenas no Brasil é muito maior do que a dos outros grupos populacionais. Principalmente no estado do Mato Grosso do Sul a situação é crítica. Junto com Mato Grosso, este é um dos estados do Centro-Oeste do Brasil onde a onda de soja se abate arrasadora para todos os lados.
O DVD ‘O Ouro Verde’, da Articulação Soja da Holanda, mostra, de maneira contundente, a relação entre o avanço dos megaplantios de soja e a expulsão da população autóctone. As imagens mostram os povos encurralados, ainda vivem na floresta – mas a floresta está rodeada de lavouras de soja. Lavouras de soja que envenenam os rios dos quais essas pessoas dependem para viver.
Muitos grupos foram simplesmente expulsos por grandes empresas, freqüentemente estrangeiras. Pessoas como Dom Pedro Casaldáliga tentaram, durante anos, denunciar esta situação para o mundo.
Mato Grosso do Sul
Assim como milhões de pessoas, ao longo dos últimos 40 anos, fugiram do campo e para se aglomerar nas favelas das grandes cidades, também os ‘índios’ se aglomeram aos milhares na ‘área indígena’. Depois do Amazonas, o Mato Grosso do Sul (MS) tem o segundo maior número de pessoas da população autóctone: cerca de 50 mil, das quais 27 mil das etnias Guarani e Caiuá.
Estes dois grupos vivem em Dourados, onde 11 mil pessoas compartilham 3,6 mil hectares. Se esta fosse uma área para reforma agrária, só seria permitido o assentamento de 200 famílias! Desarraigados, sem terra para subsistência, é impossível para eles proverem seu sustento. Para a alimentação, eles dependem totalmente da boa vontade do governo estadual. Os números são estarrecedores:
* Mortalidade infantil:
mortalidade infantil entre indígenas no MS: 60,5 a cada mil nascimentos;
mortalidade infantil entre não-indígenas no Brasil: 24,3 a cada mil nascimentos;
* Subnutrição:
entre os indígenas,12% das crianças estão subnutridas;
entre os não-indígenas no Brasil este número é de ‘apenas’ 5,7%;
15% das crianças indígenas estão abaixo do peso normal.
FIAN (1), a ‘Anistia Internacional para alimentação adequada’
Em 2004, 15 crianças indígenas morreram de fome nas aldeias no Mato Grosso do Sul. No início de 2005, sempre que, em Dourados, morria uma criança, isto era noticiado nos jornais nacionais. Dia 11 de janeiro: um bebê de 8 meses; 8 de fevereiro: uma criança de 3 anos e 11 meses; 19 de fevereiro: um bebê de 6 meses e 15 dias; 24 de fevereiro: uma criança de 1 ano e 11 meses e uma outra criança de 1 ano e 4 meses; 26 de fevereiro: e mais um; …; e mais uma; …
Será que a canção “Altijd iemands kind” [“Sempre é o filho de alguém”], de Willem Vermandere (2) também se aplica aqui?
Graças a FIAN a notícia foi ganhando o mundo. O mérito de FIAN não está só no fato deles exigirem para cada indivíduo, para cada criança, o direito a uma alimentação adequada. O movimento estabelece, também, uma clara ligação entre as mortes e o drama da soja vigente.
Crianças que morrem cercadas por um mar de proteínas.
Será que um outro mundo não é possível?
Por exemplo, um mundo no qual a soja seja utilizada para consumo humano sem destruir as condições de vida de povos inteiros?
peuple autochtone, soja, agriculture d’exportation, déplacement de population, malnutrition, droits des enfants, pauvreté
, Brésil
Navios que se cruzam na calada da noite: soja sobre o oceano
Esse texto foi tirado do livro « Navios que se cruzam na calada da noite : soja sobre o oceano » de Luc Vankrunkelsven. Editado pela editora Grafica Popular - CEFURIA en 2006.
Livre
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