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Biodiesel de soja

Luc Vankrunkelsven

01 / 2004

O governo Lula tem como meta ser auto-suficiente em energia até 2006. Mesmo que recentemente tenham sido descobertos novos campos de petróleo ao longo da costa do Espírito Santo, o país ainda precisa importar muito petróleo e gás natural. É, portanto, um projeto positivo se for conduzido num contexto de economia de energia, investimentos na rede ferroviária abandonada, fontes alternativas de energia, etc. O Brasil é um país imenso e com enormes possibilidades. Aqui há abundância de tudo: terras, água, sol, vento, culturas agrícolas, biomassa. Esta abundância provoca no brasileiro – pelo menos no ‘consumidor’, aquele que pode gastar – uma mentalidade de desperdício: desperdício de terra, espaço, água, ar, eletricidade, frutas, …  (1). Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é o país com as maiores diferenças entre pobres e ricos.

Hidrelétricas, poder e dívida externa

O projeto desperta uma criatividade nunca antes vista. Desde a década de 50 do século XX existe uma opção – principalmente política – pela construção de centrais hidrelétricas, tendo em vista a abundância de terra e água. Esta energia é comercializada como energia ‘limpa’ mas, mesmo assim, trouxe (e traz) consigo muitos problemas sociais e ecológicos. Milhares de pequenos agricultores foram expulsos de suas terras e muitos povos indígenas também foram deportados das terras de seus ancestrais. Por exemplo, durante a ditadura militar foi construída a usina de Itaipu, a maior barragem hidrelétrica do mundo. Era um megaprojeto que também se enquadrava na estratégia militar do Brasil: se Itaipu fosse esvaziada de uma só vez, era possível inundar a capital Argentina, Buenos Aires, milhares de quilômetros rio abaixo. Os Guarani foram forçados a morar nos acostamentos das rodovias. Junto com a expansão da monocultura da soja (que aumenta a secular concentração de terras nas mãos de uma pequena elite), a inundação das terras de milhares de pequenos agricultores foi uma das razões do surgimento do Movimento dos Agricultores Sem Terra – MST (Cascavel, 21 a 24 de janeiro de 1984; portanto, há pouco mais de 20 anos).

A ditadura também investiu nas usinas de energia nuclear, mas estas não fizeram tanto sucesso. Itaipu, as centrais nucleares, a construção da capital Brasília e outros megaprojetos estão na origem da lendária dívida externa do Brasil. Atualmente, esta dívida está sendo paga em grande parte com a agricultura para exportação. Lê-se nesta época de ‘febre da soja’ e euforia em torno da soja: a espiral de juros – coração do capitalismo – faz com que as florestas sejam derrubadas em ritmo acelerado; que a soja está expulsando até outras culturas e a poderosa pecuária  (2); que as savanas – cerrado e campos – com sua importante biodiversidade poderão ser, rapidamente, totalmente ocupadas por soja; que agrotóxicos estão sendo aplicados até a porta da casa dos cidadãos; que os agricultores familiares estão desestimulados, vendendo suas terras e juntando-se à massa empobrecida e sem esperanças dos grandes centros urbanos. Pode-se continuar aumentando a lista, crônica após crônica, dia após dia.

Os megaprojetos das hidrelétricas e centrais nucleares também trazem consigo grandes conflitos de poder. Pergunte à poderosa empresa franco-belga Tractebel, que possui aqui, no Brasil, diversas barragens/centrais elétricas. E pergunte principalmente aos agricultores que vivem ao lado dos lagos das hidrelétricas e que, ao mesmo tempo, nem sequer têm acesso à rede de energia elétrica…

Muitas tecnologias alternativas de energia ‘podem’ reduzir esta concentração de poder.

O que é esta explosão de idéias e projetos criativos?

Histórico: desde a década de 70, o Brasil é líder no Programa de Álcool Combustível. Centenas de milhares de carros circulam no Brasil com 100% de álcool, destilado da cana-de-açúcar. Toda gasolina contém de 20% a 25% de álcool. Atualmente, o know-how é vendido para a Índia, onde também querem implantar este programa. Há muitos questionamentos ecológicos e sociais a serem feitos em relação a esta assim chamada ‘energia limpa’, mas não vou tratar disso agora. Afinal, esta é uma crônica sobre soja  (3).

  • Desde 2000 está sendo realizada, na metrópole São Paulo – a cidade com a maior concentração de ônibus do mundo – uma pesquisa interessante: ônibus que circulam movidos a hidrogênio. Eu acho que é a alternativa que tem mais futuro, e é realmente ‘limpa’. Eles esperam expandir o projeto para outros centros metropolitanos.

  • Brasil tem 8 mil quilômetros de costa. Ideal para energia eólica, principalmente no Maranhão (nordeste do país), onde ventos fortes sopram o ano todo.

  • O sol brilha em todo o Brasil. Células fotovoltaicas e outras tecnologias de captação da energia solar têm, portanto, um grande futuro. Desde o ‘apagão’ de 2001, a popularidade desta forma de energia (bem como as lâmpadas frias e fontes alternativas) claramente aumentou. O novo governo continua nesta mesma dinâmica.

  • Circulam, atualmente, muitos projetos envolvendo biogás: esterco de suínos (o estado de Santa Catarina tem grandes concentrações de suínos no sistema de criação integrada e compete com o criador de suínos europeu), bagaço de cana-de-açúcar, resíduos de consumidores nas cidades.

  • Onde há muitas indústrias madeireiras, como no Paraná, a energia elétrica é gerada pela queima de serragem (centrais ‘termoelétricas’).

  • Por fim, há a via do ‘biodiesel de óleos vegetais’. Dependendo da região e das espécies adaptadas a ela, este pode ser de: sementes de algodão, mamona, dendê, sementes de girassol e… soja. Agora que a soja é onipresente, esta via é considerada com seriedade. O governo federal tem planos (mas, por enquanto, ainda não tem dinheiro) para os projetos de biodiesel de soja, tanto da soja das monoculturas (fazendeiros) quanto da agricultura familiar (com maior agrobiodiversidade na propriedade).

Recentemente, foi realizado – na Fetraf-sul/CUT, em Chapecó – um dia de estudos sobre os planos do governo envolvendo ‘projetos para biodiesel de soja na agricultura familiar (AF)’. Na qualidade de consultor da Fetraf para questões envolvendo OMC e soja, escrevi uma série de observações para o secretário geral, Altemir Tortelli. Seguem as observações. Como Fetraf realiza de 1o a 3 de março de 2004 um importante congresso, faço várias referências ao documento básico preparatório para esta reunião.

« Tortelli,

De modo geral, não gosto da idéia que agora está tomando vulto em ambos os lados do oceano – na Europa e no Brasil. Apresento-lhe a seguir minhas considerações:

1. Biodiesel é um componente da ‘modernização capitalista da agricultura’, conforme bem exposto na publicação da Fetraf: ‘Mutirão da Agricultura Familiar’, 2003, p. 5-7.

2. A monocultura da soja é uma herança da Revolução Verde (?) que teve como conseqüência os desmatamentos nefastos nas décadas de 60, 70, 80 e 90… e tem, ainda, conseqüências sociais: p. 7. Mesmo dentro da AF, o cultivo da soja é um problema, ainda que em menor grau (menos ou nenhum adubo químico, sem aplicação de calcário, em sistema de rotação de culturas, etc.). Se você só planta soja, a biodiversidade é zero. Nos sistemas agro-florestais, por exemplo, esta história é totalmente diferente. Plantar soja numa floresta é completamente impossível, exceto soja perene num sistema agroflorestal! Portanto, o desmatamento é inevitável. Gado, junto com árvores de erva-mate e outros produtos (para o mercado brasileiro) são possíveis – sim – neste sistema.

3. Num mundo com 855 milhões de famintos (a cada ano este número aumenta 5 milhões, apesar dos ‘benefícios’ da agricultura industrial com suas sementes híbridas ou transgênicas), é extraordinário observar que a AF, ‘a mão que alimenta esta nação’ ( = slogan da Fetraf), agora iria alimentar os motores a diesel dos caminhões da Mercedes. Neste mundo capitalista há uma ‘guerra entre o estômago e o automóvel’. Está claro quem irá vencer!

4. Neste mundo tão faminto (só no Brasil, são 44 milhões dos 180 milhões de brasileiros), é uma vergonha que 65% da produção mundial de soja e 90% do farelo de soja sejam destinados à ração para animais. E agora a safra agrícola seria destinada, também, aos caminhões. O carro particular e o consumo (excessivo) de carne são os símbolos máximos do capitalismo e da riqueza para uma parte da sociedade. É uma questão de ‘pegada ecológica’ e de ‘pegada social’. É bastante assustadora a perspectiva de que o agricultor familiar – que usa a tração animal do boi ou do cavalo – produzirá soja para os consumidores de carne da Europa, Japão e China … e agora também para os caminhões que transportam o grosso da produção da ‘agricultura de exportação’ dos latifundiários para o porto do Paranaguá. Para um jogo cínico como esse, precisaríamos de um planeta com o triplo do tamanho da Terra.

Nós nos aborrecemos com o fato de que a maior parte das proteínas é destinada à ração animal e que dificilmente poderemos utilizar todo óleo extraído em nossa margarina ou nos óleos comestíveis. Biodiesel é a ‘saída ecológica’ para utilizar este óleo. Para aplacar nossa consciência e ganhar duas vezes mais dinheiro.

5. Biodiesel é um componente lógico de um sistema que foi imposto ao Brasil desde as décadas de 50 e 60: o desmonte da rede ferroviária e a construção de estradas para os caminhões e ônibus da Mercedes e Volkswagen ( = fonte de riquezas para a Alemanha após a 2a Guerra Mundial) e, atualmente, também para outras, como Volvo, Scania, etc.

Estou feliz porque, em 2004, o governo Lula novamente investirá mais recursos em ferrovias do que em rodovias. O transporte ferroviário é 50% mais barato do que o rodoviário. Portanto, será necessário menos (bio)diesel para levar a soja a Paranaguá. E ainda nem mencionei os custos e os problemas ecológicos.

Plantar soja para biodiesel – sem uma análise criteriosa – é aceitar e promover a continuidade do avanço da fronteira agrícola. Em 2002, constatou-se que o desmatamento da floresta amazônica aumentou em 25 mil km2. ‘Normalmente’ este aumento é de ‘somente’ 18 mil km2 por ano. O cerrado (25% da área do Brasil) e, nos últimos anos, também os campos, no Paraná e Santa Catarina, foram ocupados pela soja. Nestes locais, a biodiversidade está desaparecendo muito rapidamente. Ainda assim, na região de Guarapuava, as plantas medicinais – por exemplo – representam uma importante fonte de renda para a AF.

6. A ‘burguesia industrial’ afirma agora que o biodiesel é o combustível do futuro! “Nós temos, nas grandes cidades, problemas com poluição do ar e agora vocês, queridos agricultores, finalmente terão uma importante missão social. Vocês colaborarão na melhoria das cidades.”

Não, o futuro é: ônibus movidos a hidrogênio ou elétricos. São Paulo tem ônibus do transporte público movidos a hidrogênio. E, no início do século XX, eram os carros elétricos em Nova Iorque. Portanto, é possível fazer as coisas de modo diferente, desde que não haja boicote do lobby do petróleo!

7. Ouço a mesma conversa na Europa. Agora vamos cultivar espécies para fins não-alimentícios: biodiesel, plástico, materiais de construção, etc. Mas os problemas ecológicos somente são transferidos da cidade para o campo. Na Europa, os agricultores estão usando mais agrotóxicos para suas beterrabas, colza, … para produção de biodiesel ou plástico, pois não se destinam mesmo à alimentação. É para fins não-alimentícios! O carrossel industrial de Monsanto e de seus colegas pode continuar a girar. Até deixar todos tontos.

8. É um problema de PREÇO e de GARANTIA DE PREÇO que seja justo e sustentável para o(a) agricultor(a); incluindo seu trabalho, seus investimentos, a preservação da natureza e do meio ambiente. Na Europa, o braço econômico dos sindicatos rurais fortemente organizados necessita de ‘matérias-primas’ baratas para suas indústrias. Ao invés de lutar por um preço justo, eles gritam em coro: “Que legal! Nossos agricultores estão produzindo para biodiesel e plástico. Eles estão felizes! E é ‘verde’, portanto os consumidores também ficarão felizes!” É uma questão social (preço para o agricultor, fome no mundo, …), mas também:

9. … uma questão ecológica. Para produzir uma tonelada de adubo químico é necessário utilizar mais de uma tonelada de petróleo (ou seu equivalente em energia nuclear ou outra fonte de energia). No Brasil, desde a década de 50: centrais hidrelétricas. É um sistema global de modo de vida desperdiçador e de modelo de produção industrial. Há conflitos agrários com povos indígenas e agricultores (Itaipu e muitas outras centrais hidrelétricas). Sim, é uma ‘pegada’ ecológica e social! Shell e outras multinacionais do petróleo vendem diesel e todo tipo de derivados, adubos químicos e agrotóxicos de todos os tipos e agora, … agora vão produzir biodiesel. Eles jogam, com entusiasmo, o jogo ecológico. Falam de ‘energia verde’. Muitas vezes o balanço energético, o resultado do output-input (saída – entrada), é negativo… Olha só que loucura: produzir ‘petróleo’ nas lavouras (‘bio’diesel) com petróleo extraído da terra?! Somente o deus Lucro poderia inventar uma coisa dessas.

É claro que cada história deve ser contextualizada e analisada caso a caso. É possível que o balanço energético no processo de conversão da soja seja positivo, já que a soja convencional é uma papilionácea (leguminosa) e, portanto, capaz de fixar o nitrogênio atmosférico. Exige muito menos adubo químico do que, por exemplo, o milho. Entretanto, na soja transgênica, esta capacidade de fixação de nitrogênio seria reduzida, podendo chegar a zero.

Mas, mesmo que a necessidade de aplicação de nitrogênio na lavoura seja menor, quaisquer ação e deslocamento neste país imenso demandam muita energia: moagem de rochas calcárias e levar o calcário até a lavoura, todo tipo de transporte – antes, durante, e depois do desenvolvimento – da soja, armazenagem nos silos, o processamento químico dos grãos para obtenção das proteínas e do óleo, processo de produção do biodiesel, …

E isto sem falar das grandes perdas de soja durante a colheita e o transporte. As rodovias do Brasil estão cobertas de grãos de soja.

10. Ainda há o problema do preço da terra. No Brasil, as pessoas falam do ‘preço de terra para soja’. No Rio Grande do Sul, por exemplo, este preço quadruplicou nos últimos quatro anos devido à ‘febre da soja’. Em Flandres, falamos do ‘preço de terra para esterco’ (4). Soja no Brasil – e a imagem no espelho da Europa reflete: esterco! Sim, é um sistema global com muitos efeitos desastrosos na área social e ecológica.

O preço das terras no Brasil e na Bélgica aumenta devido à soja. Os agricultores da AF (os mais jovens com seu projeto ‘minha primeira terra’) não podem mais pagá-los. O êxodo rural em direção às cidades continua aumentando, mesmo com o biodiesel da soja. No Brasil são cultivados, atualmente, 23 a 25 milhões de hectares com soja. O governo e os engenheiros agrônomos estão sonhando em chegar a 100 milhões hectares… Será uma grande crise ecológica e social. Já é uma crise de dimensões planetárias. Os preços

no mercado internacional vão baixar, com ou sem China. Agora já se fala que o preço da soja em 2004 irá baixar devido à safra recorde do Paraná em 2003 e da safra ainda maior esperada para 2004. Vai terminar como o preço do café e, nesse meio tempo, a agricultura familiar terá sido destruída.

11. Para cada tonelada de alimento são necessárias, em média, dez toneladas de água. Alimentos, produzidos a partir de matérias-primas cultivadas de maneira convencional, requerem muita energia. Quando transportados por caminhão e exportados em navio, é necessária ainda mais energia.

E para uma tonelada de biodiesel: quantas toneladas de petróleo e água são necessárias?

Será que não há alternativas?

Não, eu não sou um ‘fundamentalista’. Sempre houve produtos não-alimentícios na agricultura, tanto na Europa quanto na América. Por exemplo: 3% das terras cultivadas no mundo são ocupadas com algodão; 26% dos agrotóxicos utilizados no planeta destinam-se esta cultura! Algodão é um grande problema ecológico. Porém, há alternativas. Eu acho que a discussão deve ser feita por produto, nos diferentes contextos, mas levando em consideração sempre a perspectiva de um mundo com 12 bilhões de pessoas no ano 2050 (?). Conscientes de que dispomos de apenas um planeta, e não de três.

Um exemplo:

  • Na Europa (mas também no Brasil e nos Estados Unidos), o cânhamo é cultivado há séculos. Nos últimos 10 anos, voltou a haver interesse pela espécie. A União Européia até subsidia seu cultivo. Eu acho que é um bom negócio. A espécie não exige adubo, nem produtos químicos e tem o maior teor de proteínas depois da soja. Isto é interessante para alimentação animal em nossa região (Europa) porque não é necessário importá-las do Brasil e dos EUA. Um hectare de cânhamo equivale a quatro hectares de Pinus americano para produção de papel. As roupas feitas com fibra de cânhamo são de três a quatro vezes mais resistentes do que as feitas com algodão e não há problemas ambientais. E o balanço energético é positivo. Mas a indústria do plástico e das fibras sintéticas demonizam o produto desde as décadas de 40 e 50. Habilmente, eles alegam o problema das drogas. Entretanto, existem variedades de cânhamo com poucas substâncias entorpecentes.

  • Cana-de-açúcar e biodiesel, ou melhor: álcool? Sim, se não estivessem nas mãos das grandes (agro)indústrias, como é o caso no Brasil desde a década de 70. Açúcar não é um item básico de alimentação. Doces são importantes no Brasil, mas não são fundamentais. Ao contrário, não é saudável! Cana-de-açúcar (no Hemisfério Sul) e beterraba açucareira (na Europa) estão perdendo espaço e sendo substituídas por aspartame, taumatine e outras substâncias químicas…, 200, 350 e até 2 mil vezes mais doces do que o açúcar comum.

No caso da soja, a situação é outra. Também não faz parte da cesta básica, mas tem o potencial de alimentar os brasileiros, bem como ajudar no combate da fome no mundo. Seria um passo importante destinar de 20% a 50% do farelo de soja do mundo para consumo humano. Seria uma revolução!

Eu só acredito nas possibilidades do biodiesel da soja e no álcool da cana-de-açúcar, se:

  • estes estiverem nas mãos da ‘agroindústria familiar’, de modo que a mais-valia do produto fique nas mãos da AF e suas cooperativas;

  • a prioridade de Fetraf-sul/CUT e do governo federal for o processamento da soja para produtos alimentícios no Brasil;

  • for uma das fontes de renda para AF;

  • a preferência for para soja orgânica (balanço energético! Não requer calcário nem produtos químicos);

  • a agrobiodiversidade na propriedade tornar a aumentar: a herança da Revolução Verde (ou seja, a monocultura da soja) for convertida numa verdadeira diversidade, própria da AF, associada ao reflorestamento com espécies nativas;

  • o biodiesel não for destinado ao mercado ‘livre’ e sim ao transporte das cooperativas;

  • os agricultores, simultaneamente, se conscientizarem de seu modo de vida no plano da energia e do transporte;

  • o governo tiver um plano global de utilização mais econômica de energia e de desenvolvimento de fontes alternativas (solar; a produção de energia eólica no Brasil para chegar a 143 mil MW, ou seja, o equivalente a 11 Itaipus; …);

  • o governo tiver uma visão de transporte sustentável e fortalecer a rede ferroviária; ampliar o transporte público com base em hidrogênio;

  • o governo tiver um plano concreto (leis e controle) para proteção dos últimos campos no sul do Brasil e para a preservação do que ainda resta do cerrado e da região amazônica.

Tortelli, eu espero que você entenda que estas críticas e sugestões são feitas a partir de um grande amor pela agricultura familiar, pela natureza e meio ambiente, pelos 855 milhões de famintos no mundo e pelo futuro de ‘nosso Brasil’.”

 

1 Segundo o Worldwatch Institute, o Brasil é o sétimo mercado consumidor do mundo, mas somente 33% de sua população têm acesso a esta sociedade de consumo (57,8 milhões dos 180 milhões de brasileiros). Definição de ‘consumidor’: alguém que tem um poder de compra de mais de US$ 7 mil ao ano. Caso contrário, esta pessoa não ‘existe’ e, portanto, não é interessante para o mercado global.Só para comparar:
1 Estados Unidos da América com 242,5 milhões de consumidores (84% da população); Japão com 120,7 milhões de consumidores (95% da população);China com 239,8 milhões de consumidores (19% da população);Índia com 121,9 milhões de consumidores (12% da população);Rússia com 61,3 milhões de consumidores (43% da população);Alemanha com 76,3 milhões de consumidores (92% da população).
1 Mais alguns detalhes do estudo: - 1,7 bilhão de pessoas da população mundial encontram-se no reino dos consumidores; - Os Estados Unidos da América, com somente 4,5% da população mundial, é o maior usuário de petróleo (daí a importância do Iraque!); o Brasil ocupa a sexta posição.- O consumidor norte-americano é responsável pela emissão 19,7 toneladas de CO2 por pessoa por ano; o consumidor brasileiro – que gosta de se espelhar no ‘American way of life’ [modo de vida americano]: 1,8 tonelada de CO2 por pessoa por ano. Portanto, esta imitação promete para o futuro!
2 no Paraná, 2/3 das terras cultivadas foram ocupadas com soja neste verão; manchete de um jornal de 27/01/04 anuncia com alegria: ‘O Estado deve produzir 11,7 milhões de toneladas de soja em 2004’.
3 Se você quiser mesmo saber, leia o capítulo ‘Álcool e bioetanol’, p. 111-114 em: ‘Brazilië: spiegel van Europa?’ [‘Brasil: espelho da Europa?’], Dabar/Luyten, 2000, de Luc Vankrunkelsven, ou em: Boer & Tuinder (B & T) [Agricultor e Horticultor], 15 de abril de 2005. Uma citação de B & T: “Professor Rogério avisa: ’Soja tem uma produção baixa de óleo, 560 litros por hectare por ano. Comparando com cana-de-açúcar e sorgo, com seus 6000 litros/hectare, esta pode não ser a saída imediata. Além disso, ainda temos no Brasil o dendê com seus 3,5 a 5 ton/ha e mamona com 1,7 ton/ha.”

 

4 Nota do tradutor: na Europa, vários países possuem regulamentos que estabelecem limites para a quantidade de esterco que pode ser aplicada por hectare devido à contaminação dos lençóis freáticos e, conseqüentemente, da água potável. Assim como aumenta o preço da terra para plantio de soja no Brasil, aumenta o preço da terra para depositar esterco em Flandres

Mots-clés

agriculture d’exportation, agrocarburant, dégradation de l’environnement, énergie renouvelable


, Brésil, Paraná

dossier

Navios que se cruzam na calada da noite: soja sobre o oceano

Notes

Esse texto foi tirado do livro « Navios que se cruzam na calada da noite : soja sobre o oceano » de Luc Vankrunkelsven. Editado pela editora Grafica Popular - CEFURIA en 2006.

Fetraf (Fédération des travailleurs de l’agriculture familiale) - Rua das Acácias, 318-D, Chapecó, SC, BRASIL 89814-230 - Telefone: 49-3329-3340/3329-8987 - Fax: 49-3329-3340 - Brésil - www.fetrafsul.org.br - fetrafsul (@) fetrafsul.org.br

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