Republica da Ignorancia

Os criterios para se dizer quando cessa a ignorancia e comeca a civilizacao podem variar, mas a pretensa objetividade desses criterios, serve apenas para mascarar a ignorancia. Analfabetismo nao e so uma questao de palavras ou falta delas. Ensinar a ler e importante, mas esse conhecimento e pouco no processo de civilizacao. Alfabetizar e um passo. Resgatar os alfabetizados para situa-los num patamar decente e mais complexo e ainda mais desesperador.

Dessa forma, "Republica da Ignorancia" nao e uma questao so de alfabetizacao, so de ensino basico, so de pesquisa universitaria. E tudo isso e mais alguma coisa. Esse "mais" e a capacidade de reflexao sobre si propria.

Ignorancia acaba sendo incapacidade de se refletir, de se estranhar consigo mesmo. Essa capacidade de estranhamento e o que a educacao deve resgatar.

Na fronteira do seculo 21, o Brasil atingiu a modernidade politica, mas os aproximadamente 60 milhoes de analfabetos e semi-analfabetos o colocam na pre-historia da cidadania. Por qualquer angulo escolhido - ensino basico, 2o. grau, universidades ou pesquisas cientificas - constata-se a deterioracao do ensino.

O aluno brasileiro passa hoje por uma perversa peneira que faz com que de cada 100 alunos matriculados no primeiro grau apenas seis cheguem a universidade.

Sao visiveis os sinais de apodrecimento. No ensino basico a carga horaria media e de 720 horas anuais para 180 dias letivos, taxa compativel com a de paises da Africa. Os professores sao mal-preparados e pessimamente remunerados. A media salarial e de um salario minimo segundo o Ministerio da Educacao.

A Republica da Ignorancia atinge tambem a universidade. A decadencia do ensino superior nao e apenas visivel pelo salario de seus professores, mas pelos abandonados laboratorios, predios e bibliotecas.

A pesquisa e o retrato acabado da falencia deste nivel de ensino: enquanto que o Brasil gasta 0,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB)em pesquisa, o Japao gasta 2,78% e os Estados Unidos 2,71%.