As liçôes de uma experiencia
11 / 1993
Nestes 6 anos temos concentrado nosso esfôrço nos vínculos que ligam as pessoas entre si; que ligam tradiçâo e modernidade; que ligam o homem e a cultura, que articula o saber popular e o saber científico, que ligam a universidade e a comunidade e que aproximam a comunidade dos excluidos. Este trabalho tem exigido um esfôrço interdisciplinar em vista de uma açao transdisciplinar.
A interdisciplinaridade exige mais do que o somatôrio de profissionais especializados. Ela tem que ser na perspective da complementaridade, uma vez que:
1- Nenhuma técnica-especializaçâo pode apreender a totalidade da problematica em questâo;
2- Nâo hà a verdade e sim leituras de um fato onde cada um lê, em funçâo de sua perspective de sua prôpria historia pessoal. Necessitamos relativizar nossos modelos explicativos tendo em vista que todo modelo é uma construçâo provisôria. Nesta perspectiva, a interdisciplinaridade exige diàlogo, interpelaçâo entre as diferentes disciplinas para consolidar a açâo e para permitir o crescimento dos profissionais. Para isso temos que ter as dobradiças da inteligência e da consciência, flexíveis para a abertura ao desconhecido. A interdisciplinaridade pode conduzir a um impasse, quando é usada como estando a serviço de uma especialidade. Nestes casos surgem conflitos na equipe onde predominam questôes de autoafirmaçâo, competiçâo, repercutindo negativamente no paciente que torna-se peça no jogo do poder. Estamos convencidos que toda interdisciplinaridade, deve culminar com uma açâo transdisciplinar. Isto é, nâo deve haver prevalencia de uma especialidade sobre o objeto da açâo. A preocupaçâo é o "sujeito" o "paciente" do qual tenho certo conhecimento e posso trazer contribuiçâo parcial. Isso pre-supoe uma atitude de respeito a outros profissionais porque passo a conhecer meus limites e tenho consciencia da complexidade do " objeto-sujeito" da minha açâo.
Além das exigencias de um diàlogo incessante entre profissionais temos que estabelecer mesmo diàlogo com a comunidade que oferece outras variantes que interferem decisivamente no processo de cura. Por exemplo: o que fazer da contribuiçâo de familiares e vizinhos? Como respeitar os valores culturais, as crenças? O que sabemos dela, o que ela tem a nos dizer? O que fazer das potencialidades terapeuticas integrativas da prôpria comunidade?
Nossa pesquisa açào situa-se no cruzamento das disfunçôes, no fogo cruzado dos conflitos, no processo que privilegia as inter-açôes entre os diversos saberes, adotando uma metodologia participativa, transdisciplinar e transcultural. Isto é tentamos ultrapassar as especialidades tando do saber científico como do saber popular e de seu necessàrio interquestionamento.
Nossa açâo tem nos firmado na conviçao que o futuro da psiquiatria nâo será mais no investimento de espaços azilares que excluem os que sofrem, que ghetizam os doentes mentais, que excluem a participaçao dos valores culturais, mas sobretudo no refôrço dos vinculos interpessoais e culturais; que unem, fortalecem e fazem o homem descobrir o sentido da pertença. A cultura é tal qual teia invisível que integra e une os individuos. O que construimos tem sido fruto de um esforço coletivo, de engajamentos pessoais, de vontade de fazer algo para amenizar o sofrimento de populaçôes excluidas da partilha.
Texto original
(France)
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