05 / 1993
Existem 3 questoes a serem vistas no processo de integraçao regional do Mercosul, sao elas: a questao da harmonizaçao, o papel do Estado e a questao das politicas compensatorias.
Quanto a primeira, esta constitui-se num ponto neuralgico do processo de integração. Talvez, o mais complexo seja a necessária harmonizaçao das politicas macro-economicas. Na harmonizaçao das politicas setoriais,certamente a politica agricola e a agroindustrial, sao um dos pontos mais controversos nesse esforço de harmonizaçao de politicas . Devido ao fato de se tratar de produtos que trazem algumas definiçoes em alguns casos de natureza estrategica em termos de segurança alimentar, que fazem com que sejam produtos menos suscetiveis a propostas de abertura comercial, e onde a competiçao pura e simples, e dificil. Ha tambem a questao tributaria e a cambial. A primeira e um dos principais componentes do discurso hoje, especialmente dos setores dominantes, mas nao so deste, pois ela esta inserida numa discussao, no caso do Brasil, decisiva, que e a propria discussao da crise fiscal do Estado, onde tambem, temos incluida toda a crise economica e politica deste. Esta em pauta a questao fiscal, a questao de recuperar a capacidade de arrecadaçao do Estado e com isso recuperar a sua capacidade de intervir na economia. No que se refere a questao cambial, no processo de integraçao regional, tem contado de maneira tao importante que as eventuais vantagens comparativas. A relaçao cambial como instrumento propiciador de comercio, ajuda a explicar em grande medida, a questao de importaçao de produtos argentinos e uruguaios no Brasil, e vice-versa. A rigor, a questao que esta colocada de uma maneira geral em todos os paises, a despeito do discurso liberal ou nao-liberal.
Quanto ao papel do Estado, pela amplitude como foi colocado o Mercosul, ele esta vinculado a uma outra questao que e a crise do Estado, a crise de legitimidade que atinge os estados latino americanos que estao envolvidos nesse processo. E de alguma forma, o espaço MERCOSUL funciona para compensar essa crise de legitimidade. Por exemplo, em relaçao a capacidade dos estados elaborarem politicas compensatorias pode amenizar os efeitos negativos que a integraçao possa trazer para os setores especificos. Em segundo, uma questao mais estrutural, e a diversidade dos estados envolvidos. A composiçao dos estados com relaçao a permeabilidade ou nao, aos grupos de interesse, aos diferentes segmentos, ou classes sociais que sao muito diversos.
Com relaçao ao ultimo ponto, politicas compensatórias, deve-se pensar essa questao dentro desse quadro de diferenciaçao, de protecionismo. Talvez, o mais certo seja pensar a questao das politicas compensatorias, a partir da ideia de sustentabilidade. Por ser uma ideia nova, e que e justamente sair da ideia da proteçao para a ideia de dar sustentaçao. Essa ideia de sustentabilidade, talvez, incentive as pessoas a pensar uma outra maneira de tratar a politica compensatoria, que não so de proteçao, mas que sao condiçoes essenciais para voce dar sustentabilidade a certos grupos sociais.
intercambio comercial
, Brasil
As questoes colocadas pelo Secretario de Politica Agricola da CONTAG neste textosao sumamente interessantes pelo fato de estarem enquadradas dentro de um contexto mais amplo. Elas levantam alguns entraves e distorçoes do processo de integraçao em curso, que em certa medida sao conhecidas por todos os que vem acompanhando o Mercosul, a novidade esta no fato de que esses problemas nao se explicam apenas pelo Mercosul. Assim, a questao tributaria, frequentemente pensada em termos das assimetrias que originam o processo de intercambio, aqui e colocada dentro de um problema de governo mais amplo que e crise fiscal pela que atravessa o Estado Brasileiro (e a maioria dos paises do Cone Sul). A questao cambial e colocada como sendo mais importante que as chamadas vantagens comparativas. E o proprio Mercosul e visto, não como fruto da necessidade de integraçao dos povos, mas como uma produto da necessidade de legitimaçao dos governos.
Entrevista Guillermo ROGEL, assessor (IBASE), com o consultante da Politica Agricola da Confederaçao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Italico CIELO.
Entrevista
ROGEL, Guillermo, IBASE=INSTITUTO BRASILEIRO DE ANALISES SOCIAIS E ECONOMICAS, 1993 (Brazil)
IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) - Av. Rio Branco, nº 124, 8º andar - Centro - Rio de Janeiro - CEP 20040-916 BRASIL- Tel: (21) 2178-9400 - Brasil - www.ibase.br - candido (@) ibase.org.br