O que entendemos por comércio eqüitativo na França?
Pauline GROSSO, Rosemary GOMES
06 / 2003
Conceito
O comércio eqüitativo se define por uma parceria comercial, baseada no diálogo, transparência e respeito, visando uma igualdade maior no comércio internacional. Contribui para o desenvolvimento sustentável, oferecendo melhores condições de intercâmbio e maiores garantias de direitos aos produtores marginalizados. As organizações do comércio eqüitativo se envolvem ativamente, apoiando os produtores, sensibilizando o público e realizando campanhas em prol da mudança de regras e práticas do comércio internacional convencional.
O comércio eqüitativo se define a partir de condições ou critérios básicos:
Manter uma relação direta entre produtores e consumidores, evitando o máximo possível intermediários e especuladores
Praticar um preço justo que possibilite ao produtor e sua família uma vida digna
Respeitar as normas da Organização Internacional do Trabalho no caso em que os produtores sejam assalariados
Autorizar um financiamento parcial antes da colheita se os produtores assim o solicitarem
Estabelecer relações e contratos a longo prazo
Além destes critérios essenciais existem vários outros critérios de progresso.
As organizações do comércio eqüitativo garantem o respeito do conjunto desses critérios. As agências de certificação exercem um controle junto aos seus parceiros, enquanto os atacadistas e as lojas alternativas se comprometem a trabalhar dentro das condições definidas, colocando toda a informação à disposição de seus clientes ou consumidores.
Os objetivos do comércio eqüitativo podem ser resumidos da seguinte forma:
Conseguir preços e condições mais justas para os grupos de pequenos produtores
Favorecer a evolução das práticas comerciais em direção à sustentabilidade e à integração dos custos sociais e ambientais, tanto através do exemplo quanto pela luta em favor da mudança das leis
Conscientizar os consumidores de seu próprio poder, propiciando formas de trocas mais justas
Favorecer o desenvolvimento sustentável e a expressão das culturas e valores locais, no âmbito do diálogo intercultural.
A França está atrasada em relação aos países envolvidos com o comércio eqüitativo na Europa, com 9% do volume dos intercâmbios e uma taxa de notoriedade de 24% (pesquisa IPSOS – outubro de 2001), sendo 86% para a Grã Bretanha e 62% para a Bélgica, com 120 lojas de comércio eqüitativo dentro das 4.500 lojas no total do conjunto na Europa.
Desde os anos 70 até meados dos anos 90, o comércio eqüitativo era considerado tão somente exclusividade dos militantes em defesa de um ideal. Hoje destacam-se duas aproximações diferentes do comércio eqüitativo na França: de um lado o processo de comercialização integrado com lojas específicas e por outro lado a distribuição em grandes e médios supermercados (através da logomarca Max Havelaar). Desde o ano 2000 surgiram muitas empresas administradas por jovens. A partir daí o comércio eqüitativo ganhou uma nova dinâmica, pelo uso de métodos oriundos do marketing, por exemplo, Alter Eco, especialmente na comunicação com a mídia.
Atores: quem pratica o comércio solidário na França?
A maioria dos atores do comércio eqüitativo está reunida na associação Plate-forme pour le Commerce Equitable – PFCE (Plataforma para o Comércio Eqüitativo).
A criação desse programa em 1997 representou uma data muito importante. Pela primeira vez os principais atores do CE na França resolveram desenvolver juntos trabalhos de promoção e defesa do CE. Diante dos limites de uma plataforma não estruturada e sem meios eficientes, foi decidido em julho de 2000 criar uma coordenação nacional com os assalariados.
Desde então, duas ações são conduzidas pelos membros da PFCE cada ano;
Uma pesquisa IPSOS realizada em outubro sobre a notoriedade do CE na França, e apresentada à mídia durante a Semana da Solidariedade Internacional
A Quinzena do Comércio Eqüitativo de 2 a 20 de maio deste ano. Ocorreram aproximadamente 200 ações em toda França
A Plataforma para o Comércio Eqüitativo reúne:
Importadores: Solidar’Monde, Artisal
Importadores varejistas: Artisanat-SEL (VPC), Azimut-Artisans du Népal, Andines, Andines, Alter Eco, Boutic Ethic, Artisans du Sahel, commercequitable.com e Sira Kura.
Lojas: Artisans du Soleil, Ti ar Bed, Artisans du Monde (cerca de 100 lojas)
Associações de promoção: Aspal (Association de Solidarité avec les Peuples d’Amérique Latine), Yamana.
Associações com selo de qualidade: Max Havelaar
Estruturas de solidariedade: Echoppe (ECHanges pour l’Organisation et la Promotion des Petits Entrepreneurs), Comitê Catholique contre la Faim et pour le Développement, Ingénieurs sans Frontières.
No total são 13 membros atores e 9 membros simpatizantes que hoje constituem a Plataforma. Cerca de outras 30 estruturas são atualmente candidatas a PFCE.
Ilustrando práticas de comércio solidário na França
Um exemplo de processo de comercialização integrado: as lojas Artisans du Monde
Um exemplo de distribuição em supermercado: o selo Max Havelaar
Max Havelaar apresenta a particularidade de promover a distribuição de produtos alimentares na área da grande distribuição, o que mostra a evolução das mentalidades na França. Assim, a Associação Max Havelaar (nome de um personagem de romance holandês, que se revoltou contra a política colonial do seu país na Indonésia) promove a sua marca em nível de grande distribuição. Além de obedecer a modalidades de licitação e critérios muito detalhados (critérios gerais e específicos ligados ao produto), este selo é aplicado em vários produtos: café, chá, chocolate, cacau, mel, suco de laranja, banana, flores picadas, arroz e manga seca. Max Havelaar organiza campanhas sensibilizando o consumidor para que este passe a procurar produtos eqüitativos. Sua notoriedade crescente fez dele o ator mais conhecido do comércio eqüitativo na França, com a rede de lojas Artisans du Monde .
Proposta de trabalho de solicitações de políticas públicas no âmbito do comércio solidário na França
Propostas
1. Necessidade de ampliar a definição do comércio eqüitativo além da dimensão norte/sul, para incluir também as dimensões norte/norte (cf. especialmente a experiência dos Jardins de Cocagne na França) e sul/sul (cf. por exemplo, a criação do selo mexicano de comércio eqüitativo ou dos grupos de certificação mútua, compostos por pequenos produtores no Brasil)
2. Necessidade de sinergias com outras práticas de economia solidária: moedas sociais, finanças solidárias, trabalho coletivo... (por exemplo, financiamento do comércio eqüitativo pelas finanças solidárias – cf. seminário sobre esse tema em POA em janeiro de 2003)
3. Reforço das capacidades de informação e comunicação dos produtores (especialmente tornando acessíveis para todos as novas tecnologias de informação)
4. Procura de alternativas na área de certificação e distribuição (particularmente para os produtos de artesanato, produtos manufaturados, produtos alimentares complexos, turismo...)
5. Formulação de um estatuto jurídico para o comércio eqüitativo e para as normas as quais ele contribui para estabelecer. Permitindo distinguir as formas do comércio eqüitativo das do comércio tradicional, reconhecendo a diversidade das práticas.
Eixos estratégicos
1. Favorecer a participação (especialmente dos produtores na formulação de estratégias e nos processos de certificação) e a comunicação entre os parceiros no comércio eqüitativo.
2. Promover a informação destinada aos consumidores e o reconhecimento público do comércio eqüitativo.
3. Constituir alianças operacionais contribuindo para o avanço do comércio eqüitativo, principalmente desenvolvendo as sinergias com o movimento da agricultura biológica (trabalho sobre o conteúdo e os custos dos dois sistemas de selo de qualidade, a relação com o consumidor, a distribuição dos dois tipos de produção)
4. Desenvolver ferramentas e métodos de acompanhamento e monitoramento das regras e práticas do comércio internacional, particularmente através da elaboração de indicadores de equidade e sustentabilidade.
comercio justo, economía solidaria
, Francia
Economia solidária na França e no Brasil
Libro
GROSSO Pauline, Compte-rendu de l’atelier Commerce équitable et finances solidaires (Relatório do Seminário Comércio Eqüitativo e Finanças Solidárias), Fórum Social Mundial, III de janeiro de 2003, Rio, março de 2003, 3 páginas
JOHNSON Pierre, (coordenado por) Commerce Équitable (Comércio Equitativo) dossiê de propostas CPP41 de l’ Alliance pour un monde responsable, pluriel et solidaire, (Aliança para um mundo responsável, plural e solidário) Paris, nov, 2001, 44 páginas
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