Educaçao no Brasil privilegia ensino basico e universidade, esquecendo-se do segundo grau
10 / 1993
No Brasil, mesmo quem pode pagar por um ensino secundario de qualidade tem poucas alternativas, principalmente se o objetivo for ingressar em uma faculdade de prestigio.
So no Estado de Sao Paulo, por exemplo, existem cerca de 800 escolas particulares de segundo grau. Mas, quando se olha para as listas de aprovacao nos cursos superiores mais disputados, descobre-se que so umas poucas escolas conseguem aprovar seus alunos nos concursos do vestibular. As outras limitam-se a cobrar mensalidades e, em troca, oferecer o mito da superioridade do ensino pago sobre o publico.
Mesmo com eficiencia baixa num momento decisivo como e o vestibular, a escola secundaria paga continua cara. O que ela da em troca de mensalidades - que nos ultimos anos subiram mais que a inflacao - sao professores com pouca formacao, nenhum laboratorio e um "metodo pedagogico" que vai pouco alem de obrigar seus alunos a uma interminavel pratica de decorar listas de definicoes.
A situacao do ensino publico de segundo grau, como nao poderia deixar de ser, e ainda mais grave. Dos quase 3,5 milhoes de alunos do segundo grau no Brasil, 40% trabalham e mais da metade estao em cursos noturnos. O numero de jovens em idade de cursar o secundario (que esta na escola)e um dos mais baixos da America Latina: apenas um entre cada seis, indice inferior aos do Chile, Argentina, Costa Rica e comparavel apenas ao de paises como El Salvador e Haiti. Para "consolo", o Brasil se adianta ao Senegal, onde so 12% de quem tem idade para estar no segundo grau efetivamente segue esse curso.
Mas os numeros e indicadores referentes ao segundo grau em si mesmo dizem pouco a respeito desse nivel de ensino - na verdade, sao um retrato do gargalo social e educacional do pais. Um em cada seis jovens cursando o secundario significa, no Brasil, que evasao, repetencia e pobreza derrubaram a maioria dos candidatos a escola media ainda nas primeiras series do primeiro grau.
O fato de que os gastos com o segundo grau tenham representado em media menos que 10% do orcamento com educacao no pais na ultima decada, nao significa apenas descaso das politicas publicas para esse nivel de ensino. Os dados mostram que ha um enorme e fracassado esforco de fornecer educacao elementar a massa da populacao e que o Estado procura manter a universidade e alguma pesquisa cientifica do jeito que pode (e do modo que a estrutura social dispoe). Ou seja, entre esses dois polos, esta um segundo grau a deriva. Fechado para quase metade da populacao e ignorado pela maioria dos que irao para a universidade, o ensino de segundo grau, no caso da rede publica, continua sem dinheiro e, em geral, sem identidade. Um corredor por onde poucos vao passar e que nao tem merecido politicas especificas.
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, Brazil, São Paulo
Uma massa de estudantes trabalhadores passou a ocupar as classes das escolas publicas de segundo grau no pais. O Estado, entretanto, nao conseguiu reformular satisfatoriamente a educacao oferecida aos alunos que, depois de um dia de trabalho, enfrentam as poucas horas de aula em escolas mal equipadas e inseguras.
A ultima grande "politica" para o segundo grau, no Brasil, foi a lei 5692 de 1971, que previa a universalizacao do ensino profissionalizante, que nao funcionou.
Uma nova politica para este nivel de ensino deveria levar em conta nao somente a integracao dos alunos no mercado de trabalho, mas tambem uma formacao geral que desse identidade ao curso secundario e possibilitasse o ingresso na universidade.
Esta ficha traz dados fornecidos pelo jornal Folha de Sao Paulo, publicados na serie de reportagens sobre Educacao no Brasil, intitulada "Republica da Ignorancia".
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AGUIAR, Alexandre, SAPÉ=SERVIÇOS DE APOIO À PESQUISA EM EDUCAÇÃO in. FOLHA DE SAO PAULO, 1991/09/23 (BRASIL)
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