Republica da ignorancia

Cerca de cinco milhoes de criancas brasileiras entre 7 e 14 anos, a populacao de um pais do tamanho de Israel, ainda estao excluidas da escola basica. Em cada ano da decada de 80, considerada como a decada perdida, tres milhoes de criancas e adolecentes abandonaram a escola primaria e secundaria; seis milhoes foram reprovados.

Apesar desse deficit, a rede escolar atinge hoje 82% da populacao com menos de 14 anos. No entanto, caracteristicas como curriculos mal-adaptados formacao inadequada de professores e predios escolares mal-equipados mostram que a educacao brasileira esta sucateada. O sistema nao tem como receber estudantes que, em mais da metade dos casos, vem de familias subalfabetizadas, cuja renda nao ultrapassa meio salario minimo por cabeca. De todos os alunos, um em cada tres estudantes de primeiro e segundo graus nao consegue completar a serie em que esta matriculado.

Alem de permanecerem na escola 30% menos tempo que as criancas cubanas, coreanas ou alemas e de ter um curso primario um ano mais curto, o aluno brasileiro enfrenta outros problemas nos poucos momentos em que fica na sala de aulas. A maior parte de seus mal-pagos professores, que mal tem acesso a cultura escrita ou, ao menos, a cursos de reciclagem, sao formados em escolas secundarias ou em faculdades privadas, de nivel inferior as publicas.

Segundo especialistas, a educacao elementar no pais e mal estruturada. Os cursos de alfabetizacao, que duram de dois a tres anos em outros paises, aqui sao reduzidos a um, com tres horas diarias de aula. Os alunos, que em sua maioria nao possuem um livro em casa, sao submetidos a um "choque de cultura letrada" que nao podem absorver. O material didatico e formulado a partir de padroes culturais e economicos estranhos as criancas que a burocracia das estatisticas internacionais classificam de "pobres e miseraveis" (com renda inferior a um quarto de salario minimo por cabeca).

As taxas de repetencia atingem niveis entre cinco e dez vezes maiores que nos paises desenvolvidos. O atraso na evolucao escolar normal dos alunos alimenta a evasao e os dirige ao subemprego. Tres em cada quatro criancas brasileiras estao atrasadas na escola. De cada 100 matriculas na 1a. serie primaria, apenas 11 chegam ao final do secundario e cinco igressam na universide. Somente um entre cada seis jovens entre 15 e 19 anos esta cursando segundo grau.

O custo de um aluno de primeiro grau na escola publica brasileira, segundo o Ministerio da Educacao, era de US$ 146.00 em 1987. O custo anual para se colocar os 5 milhoes de excluidos na escola basica seria de US$ 730 milhoes, menos do que o saldo do comercio exterior brasileiro em um mes. Os Estados Unidos e a Franca gastam 25 vezes mais com seus estudantes.