Filipinas, 9 a 11 de maio 1993
07 / 1993
Entre os dias 9 e 11 de maio realizou-se nas Filipinas um workshop regional sobre a expansao das plantaçoes homogêneas nos países do Sudeste Asiático. O Encontro foi organizado pelo World Rainforest Movement (WRN)em colaboraçao com o Legal Rights and Nature Resources Center (LRC-KSK/Friends of the Earth-Phils). Estavam presentes membros de ONGs da Malásia, Indonésia, Tailândia, Filipinas, Japao e, como convidados, O Instituto del Tercero Mundo(Uruguai)e o Ibase, num total de 16 participantes.
A partir da constataçao da importância de ampliar a discussao sobre a expansao das plantaçoes homogêneas destinadas à produçao de papel e celulose nos países do sudeste asiático e no terceiro mundo, teve-se a idéia de se realizar um "brainstorm" do qual resultassem indicaçoes de direçoes, estratégias e campanhas a serem desenvolvidas conjuntamente.
Entre os objetivos do Encontro, estavam o de ampliar o diálogo Sul-Sul, possibilitando maior "aprendizado" com nossas próprias experiências; identificar mais claramente os problemas sociais, ambientais, políticos e econômicos derivados do reflorestamento homogêneo para fins industriais; criar mecanismos que permitam influenciar a agenda internacional para que este tema ganhe maior relevância e, encontrar pontos comuns de atuaçao, respeitando as especificidades de cada país. Os pontos em comuns no relato dos países, no referente à situaçao da exploraçao florestal e da implantaçao de indústrias de papel e celulose, ficou explicitado por exemplo, quando se falou do processo de criaçao de florestas econômicas nos países do sudeste asiático e na América Latina que começou a ter expressao social, ecológica e econômica a partir dos anos 80. O caso brasileiro, tanto pelas dimensoes que a atividade atingiu no país quanto pela expressao mundial de sua produçao de papel e celulose, tem servido como "modelo" para a implantaçao de florestas econômicas em outros países do Terceiro Mundo. Alguns aspectos importantes identificados no caso brasileiro sao comuns a outras situaçoes, como o fato das empresas e governos, de forma recorrente, procurarem identificar o processo de implantaçao das florestas e indústrias com ideais de extensao do "progresso" e do "desenvolvimento" para áreas "marginalizadas" no processo de modernizaçao nacional e internacional; a promessa, por parte das empresas, de aumentar significativamente o número de empregos para as populaçoes locais, ressaltando o "avanço" representado por relaçoes de trabalho industriais em comparaçao com as anteriormente vigentes, classificadas como "atrassadas" ou "arcaicas"; importância de governos autoritários como "patrocinadores" deste processo: subsidiando as empresas, criando as condiçoes "legais" à sua implantaçao, participando da repressao aos movimentos de resistência, etc; ausência de participaçao das populaçoes diretamente "atingidas" e da sociedade, de modo geral, tanto no processo de elaboraçao quanto de execuçao dos projetos.
A identificaçao destes e de outros pontos comuns, bem como a percepçao da complexidade da questao, nos levou a apontar a necessidade de atuaçao articulada em "diferentes arenas do conflito": local/nacional/internacional, no campo científico, na arena jurídica, na mídia, na formulaçao de políticas específicas, etc. Também foram identificados atores que ocupam lugares chave, tanto na constituíçao dos projetos nacionais, quanto no plano internacional.
Por outro lado, era preciso enfrentar a seguinte questao: o "reflorestamento" é uma atividade tida, em princípio, como "ecologicamente correta". Tanto do ponto de vista da opiniao pública quanto entre técnicos agrícolas e engenheiros florestais a idéia de reflorestamento surge como resposta correta aos malefícios provocados pelo desmatamento desregrado. Era preciso, portanto, contextualizar o reflorestamento do qual falamos, formulando mais precisamente nossa posiçao. Assim, somos contrários à implantaçao de grandes monoculturas florestais cujas árvores se destinam a abastecer a indústria e que, nos países do Terceiro Mundo, se expandiram através de um processo que combinou, entre outros o desrespeito ao meio-ambiente, ao saber e uso das florestas naturais tradicionalmente realizados pelas populaçoes camponesas e aos princípios democráticos que garantiriam a participaçao dos cidadaos no planejamento e execuçao dos projetos.
O Encontro mostrou-se fundamental para a "orquestraçao" das atividades e lutas nas quais as ONGs estao empenhadas em seus países e regioes. Como ficou claro, as questoes envolvidas na expansao da exploraçao florestal, para além das especificidades de cada caso e cada localidade, têm um viés claramente internacional, o que torna a cooperaçao e o trabalho conjunto extremamente relevantes.
Organizado por o "WRN-World Rainforest Movement e Legal Rights and Natural Resources".
Report
MIRANDA, Moema, IBASE=INSTITUTO BRASILEIRO DE ANALISES SOCIAIS E ECONOMICAS, 1993 (BRAZIL)
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