No Brasil, associar questao Agrária à miséria tem sido um exercício frequente. Em parte porque, na média, as condiçoes de vida no agro nacional são extremamente precárias. Por outro lado, a questao tem sido tratada de forma residual, para nao dizer pejorativa, dando uma outra conotaçao ao termo.
A Questao Agrária em geral, e a Reforma Agrária em particular, sao temas pouco abordados pela mídia e que nao tem merecido atenção suficiente dos governos e das suas respectivas políticas setoriais. Prova inconteste é o agravamento da violência rural, o tímido desempenho dos planos nacionais de reforma agrária e a dificuldade de aprovar uma legislação mínima para a execução dos programas de redistribuíção de terras. A miséria enquanto adjetivo de uma realidade social preocupante, tem levado setores políticos e grupos de intelectuais da sociedade brasileira, a contornarem o problema por duas vias: a)o ponto central da exclusão dos "miseráveis" não está nas características da matriz do modelo adotado, mas no fato de que esse segmento da população rural não se adequou ao ritmo e competitividade exigidos pela modernização agropecuária; e b)frente às constataçoes da precariedade reinante, trata-se, então, de propor medidas compensatórias, assistencialistas, que atenuem os efeitos perversos da modernização. Não raro, nestas e noutras argumentaçoes, os referidos "miseráveis" são tratados de forma homogênea, porção restante de mais de 30 anos de políticas agrícolas concentradoras.
Portanto, o desafio que se coloca, é tratar a questão em pauta de forma interdependente e aprofundada. As esquematizaçoes do tipo questão agrária versos questão agrícola, indústria versos agricultura, urbano versos rural, riqueza(econômico)versos pobreza(social), são por demais deturpadores da realidade e conduzem a práticas politicamente equivocadas.
A reforma agrária, como outras questoes centrais no debate da retomada do desenvolvimento nacional, não pode submeter-se ao embaralhamento proposital da conjuntura modernizante, sob o risco de esticar a falência de um modelo exaurido de crescimento econômico, e por decorrência, de prolongar a estagnação que caracteriza a realidade social dos últimos anos.
A contribuíção do texto vai no sentido de mostrar que a questão do crescimento alarmante da miséria no campo brasileiro, deve passar pelo questionamento do modelo de desenvolvimento implantado nas últimas décadas, e não em teses que visam à manutenção desse modelo e a consequente perpetuação da miséria, como as que propõem a dicotomia e incompatibilidade entre instâncias que, na realidade, se forem democraticamente conduzidas, se somam e completam, como indústria e agricultura, rural e urbano, etc.
"NATURE":Conferencia Electronica AlterNex APM/ FPH
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LEITE, Sérgio, IBASE=INSTITUTO BRASILEIRO DE ANALISES SOCIAS E ECONOMICAS, ALTERNEX, 1993 (BRAZIL)
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