Acho que eu não conseguiria escrever uma crônica sobre esse tema. Se bem que…
A ‘Folha de S. Paulo’ informou hoje que o ‘excedente de mulheres’ tem aumentado assustadoramente. Em 1992, havia – numa população de 145 milhões de brasileiros – um excedente de 2,7 milhões de mulheres; já em 2003, ‘sobram’ 4,3 milhões de mulheres numa população de 174 milhões de pessoas. Um crescimento de 57%.
Razão: os homens são mais vitimados por acidentes e crimes. Não se trata de um ‘excedente de mulheres’ numa população mais velha. Ao contrário, na faixa etária de 20 a 24 anos, a causa de morte por atores externos (assassinato, acidente ou outros) cresceu 52,1% no período de 1980 a 2003 (de 121 para 184 vítimas a cada 100 mil homens).
Mercado de mulheres
O artigo fala muito de ‘mercado de procura e oferta’.
Será que vou chegar, novamente, na soja? Não passa uma semana sem que haja vítimas fatais nas disputas de terra. Terra para carne, soja e madeira. É claro que também há muitas vítimas nas favelas por causa do tráfico de drogas e outros conflitos.
E ‘mercado’? Desde 2001, o mercado tem direcionado a soja, massivamente, para a China. Bruna Machado, 21 anos e solteira, rindo, pergunta: “Talvez devêssemos criar uma ponte aérea para achar um namorado?”.
Bem, em direção à China, né?
Navios de soja há bastante mas, se você tiver pressa, o avião é melhor. É que na China, há anos, aumenta assustadoramente o excedente de homens. Razão?
Devido à rígida política de planejamento familiar, cada casal pode ter (oficialmente) somente um filho. Oficialmente? É claro que lá também há como contornar o problema. Os belgas com seus ‘acertos’ e os brasileiros com seu ‘jeitinho’ não têm a patente disso. Isto parece ser universal, portanto na China também. Como na cultura chinesa um menino ainda ‘vale’ mais do que uma menina, milhares de meninas são mortas logo que nascem. Por isso, a situação lá está ficando seriamente fora de controle: homens de mais, mulheres ‘de menos’.
‘Dumping’
China e Brasil estão se tornando – cada vez mais – vasos comunicantes: na China falta terra e água para alimentar a população; o Brasil possui ambos em abundância.
O Brasil tem um excedente de mulheres? Sem problema! A China tem um excedente de homens.
O Brasil tem minério de ferro. A China vem construir as ferrovias, através da cordilheira dos Andes, para que a soja chegue mais barata a seus frangos, patos e suínos.
As recentes importações brasileiras da China ‘explodiram’ de US$ 229 milhões em janeiro e fevereiro de 2004 para US$ 649 milhões em janeiro e fevereiro de 2005. As exportações para a China também não são desprezíveis: US$ 670 milhões. Os chineses não se abstiveram de exportar seus produtos a preços de ‘dumping’, a ponto do governo brasileiro, agora, estudar a adoção de medidas ‘antidumping. Vamos esperar que a prática do ‘dumping’ não seja usada para enviar homens chineses para o Brasil, caso contrário as solteiras brasileiras ficarão numa situação ainda pior.
Um detalhe interessante é que o ‘dumping’ é praticado principalmente para muitas peças de celulares da China – no valor de US$ 50 milhões, para ser exato. Os brasileiros adoram um celular. Ele é indispensável, entre outros, para ‘esquentar’ os namoros. Entretanto, pode ficar caro manter um namoro via celular com um chinês. O idioma não deve oferecer dificuldade: em Curitiba, o chinês já é a segunda língua estrangeira mais estudada. Mas vamos concordar que a internet ainda é o meio de comunicação ideal para conquistar um chinês…
Entre estes gigantes, porém, existe uma diferença grande. Na China, trata-se de 1,3 bilhões de pessoas; no Brasil, de 174 milhões.
O estranho é que, no último ano, sempre leio que são cerca de 179-180 milhões de brasileiros.
Ou – em um ano e meio – nasceram mais 4-5 milhões, ou o excedente de mulheres (4,3 milhões) – para variar – não foi computado.
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, Brazil, China
Navios que se cruzam na calada da noite: soja sobre o oceano
Esse texto foi tirado do livro « Navios que se cruzam na calada da noite : soja sobre o oceano » de Luc Vankrunkelsven. Editado pela editora Grafica Popular - CEFURIA en 2006.
Book
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